Educação Positiva e a alimentação dos bebês: como o método pode ajudar nessa fase e facilitar o caminho
Comunicação e estímulos são algumas das chaves para tornar esse um momento saudável e de aprendizado para pais e filhos
Por Helen Mavichian*
Quando ouvimos falar sobre Educação Positiva é comum relacionarmos unicamente à educação tradicional, com aprendizados voltados, por exemplo, a etapas como a alfabetização. Apesar de estar alinhada com essa etapa, o conceito é muito mais amplo do que se imagina. Esta é, acima de tudo, uma maneira de educar que tem como principal objetivo a busca pelo equilíbrio entre estabelecer limites firmes e incentivar a liberdade e autonomia das crianças. Trata-se de um tipo de educação fomentado no afeto, compreensão, respeito e aprendizado mútuo, considerando a voz da criança e suas vontades.
Em uma sociedade na qual as “palmadinhas” são vistas como método de ensino, a Educação Positiva pode soar até mesmo subversiva. No entanto, trata-se de um método que compreende que o relacionamento saudável com uma criança não pode se fundamentar em castigo e chantagens. O objetivo aqui é dar autonomia e aumentar a autoconfiança, fazendo com que haja uma resposta positiva não somente na parte socioemocional, mas em aspectos cognitivos também, tornando a relação pais-filhos mais saudável.
Naturalmente, a Disciplina Positiva, como também é chamada a Educação Positiva, engloba as diferentes fases da vida de uma criança, e isso inclui aspectos como a alimentação. Em momentos como a introdução alimentar, muitos pais podem encontrar desafios e se sentir desestimulados. Proporcionar um momento prazeroso, interessante e divertido pode auxiliar tanto no desenvolvimento do paladar quanto no processo de se alimentar como um todo.
Tudo isso sempre adequando-se à idade da criança. De zero a dois anos, é preciso levar em consideração que os reflexos neurológicos são ainda bem básicos. É nesse período que o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. A inteligência é prática e as noções de espaço e tempo são construídas pela ação. Por isso, é importante atrair a atenção do bebê para aquele momento sem exagerar nos estímulos. Um ambiente com sons e imagens em excesso, por exemplo, faz com que o alimento em si seja pouco atraente e, por consequência, menos apreciado.
Permitir ao bebê ter contado com a textura do alimento e deixar com que ele o saboreie dentro do seu tempo contribui para que esse seja um momento estimulante. Devemos lembrar sempre que o desenvolvimento cognitivo depende do envolvimento de várias funções diferentes. Se um ambiente caótico e estressante torna a alimentação desagradável para um adulto, que dirá para quem está descobrindo o ato de se alimentar.
Outro aspecto importante é o diálogo. Ordenar que a criança coma ou fazer chantagens como “você só voltará a brincar se comer” torna o momento estressante, o que pode fazer com que ela o associe a algo negativo. Como tudo na Educação Positiva o grande aliado é a conversa, o cuidado no tom de voz e a maneira de fazer com que o interesse seja despertado de uma maneira tranquila e harmoniosa. Um exemplo disso é mostrar opções ao bebê e deixar que ele as explore dentro do seu tempo e interesse.
De maneira geral, o que aprendemos constantemente ao aplicarmos a Educação Positiva - não somente na alimentação, mas no desenvolvimento como um todo - é que estabelecer conexões saudáveis com os filhos faz com que eles obtenham resultados muito mais positivos. Para isso, é importante que a criança tenha acesso aos materiais e ao espaço para que ela possa se apropriar dos estímulos necessários, assim como encontrar diversão nesses momentos.
Os seres humanos estão em constante evolução e a nossa maneira de transmitir aprendizados também. Um método novo ou distante do tradicional pode ser inicialmente visto com desconfiança, mas é ele que pode determinar o crescimento feliz e saudável de uma criança de uma maneira leve tanto para ela quanto para os pais.
* Helen Mavichian é Psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita