Empreendedorismo feminino: pioneiras no mercado de bem-estar sexual, contam sobre os desafios de uma empresa no setor
Primeira scale-up do segmento a ser acelerada pela Endeavor, pantynova cresceu quase 400% em três anos, faturando R$ 12 milhões em 2021. A meta até 2024 é dobrar o faturamento
Até 2027, o mercado de bem-estar sexual deve alcançar a cifra de US$ 108 bilhões, de acordo com o Allied Market Research. Um crescimento de quase 40% frente aos US$ 78 bilhões que movimentou em 2020. No Brasil, esse setor deu os primeiros passos pela iniciativa de duas empreendedoras, Izabela Starling e Heloisa Etelvina, fundadoras da pantynova, sextech nascida em 2018 e pioneira em bem-estar sexual no país. Apesar da crescente procura por esse tipo de produto, a presença de mulheres no ambiente empresarial ainda é cercada de preconceitos, o que torna o crescimento desses negócios mais desafiador.
Foi durante a pandemia que as fundadoras sentiram o boom na busca por itens de bem-estar sexual como vibradores, dildos, lubrificantes e strap-ons. “Já estávamos em um movimento de crescimento bastante positivo, mas vimos, de repente, as vendas ampliarem rapidamente. Para ter uma ideia, aumentaram 400% em março de 2020 em comparação ao mês anterior. Precisamos aprender rapidamente a escalar nosso negócio para dar conta da demanda sem perder a qualidade na relação que já havíamos construído com a nossa comunidade. Crescemos anos em semanas!”, conta Izabela Starling.
O trabalho para desbravar esse novo mercado, no entanto, havia começado dois anos antes. Izabela e Heloisa, na época um casal, não se viam representadas pelos produtos disponíveis no Brasil naquele momento. “Foi um trabalho muito intenso de pesquisa e criação. Nos dedicamos a buscar o que já estava sendo desenvolvido ao redor do mundo nesse sentido para aprimorarmos, de acordo com as nossas próprias experiências com produtos até então, e entregarmos algo realmente diferenciado. Nossa intenção sempre foi contribuir para que todas as pessoas e diferentes corpos pudessem descobrir e aproveitar da sua sexualidade da forma mais leve, natural e divertida possível”, explica Heloisa Etelvina.
A solução apresentada pela dupla conquistou o mercado. Nos últimos três anos, a empresa cresceu, em média, cerca de 400%, chegando a faturar R$ 12 milhões em 2021. Com isso, a sextech precisou buscar uma nova sede para dar conta de atender aos pedidos feitos de todas as regiões do país, além de ampliar o time composto, na grande maioria, por mulheres e pessoas LGBTQIA+. A meta para 2022 é crescer 20% e até 2024 dobrar o faturamento.
Esse crescimento acelerado fez com que a pantynova fosse selecionada para participar do Scale-Up Consumer Goods Endeavor. “Foi, sem dúvida, um momento muito importante para nós, até porque somos a única scale-up de bem-estar sexual selecionada para aceleração no Brasil. Conhecer outras empresas que estavam passando pelas mesmas dores de crescimento e poder trocar com quem já havia superado essas dificuldades, contribuiu para traçarmos planos cada vez mais ambiciosos. O ecossistema empreendedor brasileiro ainda abre poucas portas para mulheres, mas aos poucos, vamos transformar essa realidade”, diz Izabela.
A disparidade existente entre homens e mulheres na fundação de scale-ups no Brasil é enorme. O Female Founder Report 2021, conduzido pelo Distrito Dataminer, mostra que 89,2% dessas empresas são fundadas exclusivamente por empreendedores. “É preciso mudar essa cultura e acreditamos que isso é possível apenas por meio de incentivo e exemplo. Ideias inovadoras estão sendo perdidas, porque o mercado não abre espaço para a presença de mulheres. Vemos esse cenário mudando, mas ainda é muito desafiador”, pondera Heloisa.
Há ainda um outro obstáculo a ser continuamente combatido por Izabela e Heloisa: o tabu ao falar sobre sexualidade. “É incrível o receio que existe para falar sobre prazer e sexo, principalmente se levamos em consideração que esse assunto está sendo levantado por duas mulheres no meio corporativo. Realmente acreditamos em uma mudança breve nesse sentido e as projeções de crescimento para o segmento de bem-estar sexual mostram isso”, comenta Izabela ao acrescentar que a marca já foi procurada por grandes empresas como Magazine Luiza, Renner e Amaro. “No mais, as pessoas estão cada vez mais convencidas de que a atenção à sexualidade faz parte do cuidado consigo, assim como uma boa alimentação ou uma rotina regrada de exercícios, e o mercado precisará acompanhar esse novo comportamento”, conclui.
Sobre a pantynova
A pantynova, scale-up pioneira no mercado de bem-estar sexual brasileiro, nasceu em 2018 com o objetivo de contribuir na descoberta da sexualidade de forma natural, leve e divertida. Fundada e gerenciada apenas por pessoas LGBTQIA+, a empresa - que desenvolve produtos próprios, entre eles 15 vibradores e uma linha de lubrificantes veganos - foi selecionada para aceleração pela Endeavor em 2021.