Jovens migram para capital em busca de educação
Sozinhos nos centros urbanos, estudantes enfrentam mudança drástica para ter ensino de qualidade
O deslocamento de pessoas das regiões rurais para os centros urbanos não é uma novidade. Sendo mais forte no Brasil na década de 1960 com a industrialização de grandes cidades, o fenômeno foi diminuindo com o passar do tempo. Nos dias atuais, ainda existe um razoável movimento migratório para as capitais e regiões mais desenvolvidas, porém, diferentemente do êxodo do século passado, em busca de trabalho, os que mais se deslocam agora são os jovens em busca de uma educação melhor.
Segundo o censo do IBGE de 2010, apenas 16% da população total de jovens - entre 15 e 24 anos - do país, se encontra nas zonas rurais. E esse número tem diminuído cada vez mais. O principal motivo é a ausência de ensino de qualidade nas cidades do interior, levando as famílias a buscarem alternativas para a capacitação dos jovens para a época de vestibular e, posteriormente, cursos superiores com maior reconhecimento.
Essa realidade faz com que os estudantes tenham que aprender a conviver em um ambiente totalmente novo, com pessoas desconhecidas, em uma cidade mais complexa do que a de origem e, na maioria das vezes, sozinhos. Na palestra “Educar é Conviver”, o professor do Curso Positivo, Giba Lavras, diz que o mais importante para ter sucesso nessa mudança é manter o foco nos estudos e receber o apoio da instituição de ensino, pais e professores.
No curso pré-vestibular, situado na capital paranaense, mais de 25% dos alunos vêm de cidades do interior - e até de outros estados -, criando um ambiente com uma grande diversidade cultural. Segundo o docente, isso é bom para o aluno: “assim como na natureza prevalece a biodiversidade, a heterogeneidade das pessoas é fundamental para o desenvolvimento individual”.
Lavras também diz que, muitas vezes, o aluno é um dos melhores em sua cidade e, quando chega na capital, acaba não se saindo tão bem nos resultados iniciais: “Esse choque inicial é normal, uma vez que muda o ambiente. Nesses casos, os pais devem compreender a dificuldade do aluno e dar apoio para melhorar, em vez de mostrar decepção”, aconselha.
Outro detalhe comentado pelo professor é sobre as características de cada discente, como sotaque e gírias nativas. “Às vezes, o estudante tem uma linguagem peculiar. Nós temos que aceitar e ensiná-lo a utilizar a linguagem certa nas diferentes situações, de forma que uns respeitem os outros”, explica. Para isso, ele utiliza seu mascote, o Anta (nome utilizado não no sentido pejorativo, mas com intenção de demonstrar que todos nós temos deficiências), que faz as perguntas que os alunos teriam medo de fazer e ajuda na interação. Um dos jargões do Anta é “Deixa ele, é o estilo dele”, que reforça o respeito à origem de cada um.
O professor também aconselha a fazer amigos na classe, para se sentir melhor na vida longe de casa. E um cuidado a mais, quando as provas estiverem se aproximando, deve vir dos pais do estudante: “muitas mães falam ‘tem que ter força, não fique nervoso’, isso só deixa o vestibulando mais nervoso. O nervosismo faz parte de qualquer enfrentamento e o aluno conseguirá superá-lo lembrando de todo aprendizado conquistado durante o ano”, explica Lavras.
Janaína Lima dos Santos veio de Moita Bonita, interior do estado do Sergipe, para ter melhores oportunidades na capital paranaense, onde tem um tio - que também veio do nordeste e que lhe deu um suporte inicial. Ela conta que a decisão de sair de casa foi difícil, uma vez que tinha o apoio do pai, mas a mãe era contra. “No início bateu muito medo e dúvida se eu ia conseguir, além da saudade de casa. Mas a adaptação foi ótima, me acostumei muito rápido aqui e, hoje, minha mãe aceita melhor minha vinda”, conta.
Janaína expõe que percebeu uma grande diferença no nível de ensino de Curitiba, comparado com sua cidade natal. Ela já havia feito o vestibular da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e diz que o exame para a Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi mais difícil. “Percebi que tenho que fazer um esforço maior pra alcançar o êxito aqui”. A vestibulanda também dá uma dica para quem quer sair de casa para estudar: “vale a pena, é só não desistir. Sair de casa é um crescimento em todos os sentidos, faz amadurecer muito”. Ela acrescenta que o apoio dos professores ajuda muito, tanto no sentido educacional quanto no pessoal, lidando com a vida na nova cidade.
Já a estudante Jordana Smaniotto Rossi, saiu de sua casa, em Querência do Norte, interior do Paraná, com 12 anos de idade, para estudar em uma cidade vizinha e, aos 16, resolveu cursar o terceiro ano do ensino médio em Curitiba. Ela conta que, diferente de Janaína, teve apoio completo da família: “Como sempre quis fazer Medicina, eles sabiam que eu deveria ir para algum lugar que me proporcionasse uma melhor preparação. Minha mãe fez cursinho no Positivo também e, por conhecer o método de ensino e a competência do colégio, decidimos que lá seria o lugar ideal”.
Quanto a adaptação com a mudança de cidade, Jordana conta: “no meu primeiro ano em Curitiba, a adaptação foi extremamente difícil. Tudo pra mim era novo: o colégio, a quantidade de alunos que estudavam lá, as aulas, a cidade…”. Ela explica ainda que acabava estudando mais que os outros alunos por achar que não tinha base suficiente para competir com eles. Hoje ela cursa Medicina, em Joinville, e também foi aprovada em outros dois vestibulares no mesmo curso.