Lápis e canetas estão com os dias contados?
A tecnologia está cada vez mais presente nas salas de aula e já influencia na maneira como os alunos aprendem e produzem conteúdo
Se você, assim como vários brasileiros, trabalha com computador, usa o celular para se comunicar com amigos e familiares e a última vez em que pegou uma caneta foi para assinar seu nome, bem-vindo ao time. Cada vez menos se usa a escrita cursiva no dia a dia e, por isso, vem a pergunta: as crianças precisam aprender a escrever à mão?
Algumas escolas norte-americanas já adotaram a escrita digital e a letra de forma como obrigatórias, abolindo o ensino da letra cursiva do currículo. Se lá esse modelo faz sentido, por aqui o assunto gera debates. Para Liliani Rosa, professora da disciplina de Oficina de Leitura, Redação e Literatura do Colégio Positivo, não se pode ir contra as tendências, nem ser radical. "A escola precisa oferecer um leque de possibilidades para o aluno e um ambiente para que ele possa desenvolver o maior número de habilidades possíveis e escolher, de acordo com suas necessidades, qual delas utilizar", defende. Para ela, abolir a letra cursiva do currículo é limitar as possibilidades do estudante, assim como insistir em utilizar somente uma escrita impede que ele domine outras formas.
No entanto, a tecnologia chegou para ficar e já impacta na rotina escolar. Convencer o aluno da importância da escrita manual tem se tornado uma tarefa cada vez mais difícil, pois os argumentos contrários parecem mais satisfatórios para os estudantes. Em vez de copiar a matéria no caderno, eles podem fotografar o quadro e fazer anotações direto no celular ou tablet. Por que escrever, então?
Educadores comprovam que o texto produzido em formato digital não diminui a qualidade produtiva do aluno, uma vez que é possível avaliar, mesmo no texto digitado, se o aluno foi coeso e coerente, e se utilizou as características do gênero textual exigido. Nesse caso, o que muda é o suporte e não a função do texto. "É essencial que o aluno saiba se expressar verbalmente de forma coerente. Já o uso correto da ortografia dependerá do repertório de leitura e da prática textual do estudante, seja ela manual ou digital", explica Liliani. Além disso, mesmo que ferramentas tecnológicas corrijam os erros ortográficos, ainda não podem corrigir o conteúdo, que é um dos critérios de correção de maior peso cobrado nas redações para os vestibulares.
Segundo Liliani, o uso do meio eletrônico não quer dizer que o aluno sabe mais ou terá vantagens, pois o conhecimento tem que vir dele. "O importante é que o estudante possa praticar a escrita de diversos gêneros textuais e conheça suportes diferentes para o texto".