Maioria dos brasileiros considera seu pet um membro da família
Para conviver de pertinho com cães e gatos, tutores exageram nos banhos e nos perfumes; médica veterinária dá dicas de higiene para evitar problemas à saúde dos animais
O fenômeno pet parenting – ou parentalidade de animais – vem crescendo no Brasil. Para mais de 90% dos tutores, os animais de estimação são considerados um membro da família e, em 64% dos lares, eles dormem dentro de casa ou na cama.
O crescimento das famílias multiespécies não só turbina o mercado pet, que neste ano deve movimentar mais de R$64 bilhões, segundo o Instituto Pet Brasil, como também requer cautela para evitar que a humanização de cães e gatos cause mais problemas do que benefícios aos animais.
Se os cães ficam dentro de casa e compartilham sofás e camas com seus tutores é natural que precisem de banho e tosa com mais frequência, certo? Errado! O aviso é da médica veterinária Ana Elisa Arruda Rocha, professora do curso de Medicina Veterinária do UniCuritiba – instituição que integra a nima Educação, o maior ecossistema de ensino superior privado do país.
“Os banhos em excesso retiram a camada protetora natural da pele, o que predispõe ao crescimento desregulado de microrganismos. Esses microrganismos em desequilíbrio causam odor, coceira, irritação, feridas e outros problemas dermatológicos em cães e gatos”, explica a professora.
O mau cheiro é, em muitos casos, um efeito rebote do excesso de banhos, que desequilibra o microbioma da pele e a função seborreguladora. A exceção é válida para pets com doenças específicas e com recomendações especiais de higiene e tratamento. O uso de perfumes e produtos de embelezamento é outro erro e pode ser prejudicial à saúde dos pets, causando irritações e alergias de pele, problemas respiratórios e desconforto.
Quanto menos fragrância, melhor
O olfato canino, explica a médica veterinária Ana Elisa, é muito mais apurado do que o humano. Por isso, o recomendado é que os produtos para o banho tenham o mínimo de fragrância. O intervalo entre os banhos também varia. “Não existe uma frequência específica de banhos e tosas, tudo vai depender do porte do animal, da raça, do tipo de pelagem e de eventuais problemas de pele.”
Raças como Yorkshire, Shih tzu, Lhasa Apso e Maltês podem tomar banho em intervalos de 7 a 10 dias, devido à oleosidade e ao comprimento da pelagem. Já em animais de grande porte o intervalo pode ser maior, chegando a seis meses entre os banhos.
Se o cão não convive com outros animais ou vive em apartamento e sai somente para passear, os banhos podem ser uma vez no mês. O que não pode faltar é a escovação diária e a higienização das patas após os passeios. A professora Ana Elisa recomenda essa prática especialmente para animais que dormem na cama dos tutores. “A higiene das patinhas impede que os pets levem microrganismos da rua para dentro de casa.”
A tosa também deve respeitar a necessidade do animal. Algumas raças, como Spitz, não devem ser tosadas. Além disso, é um equívoco pensar que as tosas aliviam o calor. “Os cães não transpiram pela pele e a pelagem serve como uma barreira de proteção importante contra os raios UV e a incidência do calor do sol diretamente na pele”, orienta a especialista.
Gatos “autolimpantes”
Os gatos não precisam de banho. Segundo a professora do UniCuritiba, esses animais são autolimpantes e, com a língua áspera, fazem a própria higienização. Os dentes incisivos ajudam na retirada de parasitas e a saliva têm propriedade antisséptica. “Para os gatos é importante manter o odor natural. Quando o gato perde o seu cheiro natural tende a se sentir ameaçado, deprimido e muito incomodado. É como se ele perdesse a própria identidade.”
O banho em gatos só é recomendado quando há problemas de saúde. A dica da médica veterinária Ana Elisa é fazer uma escovação profissional semanal para ajudar na remoção da pelagem morta, limpeza de orelhas e corte de unhas. “A escovação impacta na saúde dos gatos e ajuda a evitar que regurgitem bolas de pelos. O tutor pode escovar os gatos de pelos longos em casa, diariamente. Nos gatos de pelos curtos, três vezes por semana é o suficiente.”
Dicas para a higiene de cães e gatos
A professora Ana Elisa Arruda Rocha, do UniCuritiba, dá dicas para a higiene dos pets e para manter cães e gatos sempre cheirosos:
A escolha do shampoo varia de acordo com o animal, o tipo de pele e a pelagem.
Evite shampoos de uso humano em pets, pois eles têm o pH da pele diferente.
Utilize produtos hipoalergênicos e livres de fragrâncias fortes.
Opte por formulações naturais, sem parabenos, petrolatos e que ofereçam os nutrientes necessários para a pelagem sem causar danos à saúde.
Faça a escovação diária da pelagem e banho a seco em casa, utilizando lencinho ou spray específico para esse fim.
Mantenha a higiene das orelhas e dentes para evitar o mau odor. Animais com problemas nos ouvidos, pele e dentes precisam ser tratados pelo médico veterinário.
Corte as unhas dos cães e gatos. Unhas grandes demais podem entrar nos coxins e causar infecções. Também podem atrapalhar no caminhar do animal, facilitar a destruição de móveis e machucar o tutor.
Nos gatos, o corte deve ser apenas nas pontinhas das unhas, caso contrário eles terão dificuldades de escalar arranhadores e outros itens de gatificação vertical.
A escovação dos dentes dos pets é de extrema importância. A saúde geral inicia pela saúde oral. Use escovas, lenços odontológicos, dedeiras e cremes dentais específicos.
Se o animal tiver mau odor na boca, a recomendação é procurar o médico veterinário.
Penteados e tranças não são recomendados, pois são incômodos para o animal. Em animais de pelagem longa, basta prender a franja com um elástico simples ou enfeite pequeno. Laços muito apertados podem até causar necrose de pele se forem fixados de maneira inadequada.
Certifique-se de que os petshops tenham profissionais capacitados e de que a secagem dos animais seja feita sob monitoramento. O uso incorreto de secadores ou máquinas de secagem pode causar danos graves aos animais.
Sobre o UniCuritiba
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