Novo levantamento mostra que mais da metade dos adolescentes brasileiros já sofreu violência sexual on-line
Pesquisa inédita do ChildFund Brasil revela que adolescentes conhecem os riscos on-line, mas preferem bloquear perfis a denunciar
Com o aumento do acesso à internet entre crianças e adolescentes, crescem também os riscos de exposição à violência sexual on-line. Para aprofundar o entendimento sobre esse tema, o ChildFund Brasil lançou a segunda etapa da pesquisa Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, com foco no abuso e exploração sexual on-line. O estudo traz uma análise detalhada do comportamento e do estado emocional dos adolescentes em ambientes digitais e revela que 54% dos adolescentes brasileiros já sofreram violência sexual na internet, o que corresponde a 9,2 milhões. Os casos ocorreram com ou sem a interação de um agressor.
O lançamento aconteceu no último dia 15 de maio, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e integra a agenda da campanha Maio Laranja, mês de conscientização e enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Neste ano, o tema da mobilização promovida pelo ChildFund Brasil é Criança segura, futuro garantido, chamando atenção para os perigos que rondam o universo digital.
“Essa etapa da pesquisa demonstra claramente que os adolescentes não se sentem seguros na internet e não sabem como denunciar casos de violência. Também revela que eles não têm acesso à educação digital estruturada que os ensine a navegar com segurança” afirma Mauricio Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil.
Novos dados também revelam falta de controle parental
No estudo, foram ouvidos cerca de 8.500 adolescentes de 13 a 18 anos, de todas as regiões do país, especialmente do Nordeste e Sudeste. A pesquisa apontou que, com o aumento da idade, cresce também o tempo de uso da internet e a variedade de aplicativos, o que eleva em até 1,3 vezes o risco de violência online para jovens de 17 e 18 anos em comparação aos de 15. Em média, a pesquisa apontou que os adolescentes passam quatro horas diárias conectados, principalmente pelo celular e fora do contexto escolar.
A pesquisa também aprofunda a compreensão do estudo a partir da perspectiva dos adolescentes. Os resultados indicam uma predominância de hábitos on-line entre os adolescentes: 79% dos hobbies mencionados são digitais, e apenas 21% envolvem atividades off-line, como desenhar, passear ou praticar esportes. Aplicativos como Instagram e TikTok são os mais citados. Esses dados reforçam o alerta para a exposição prolongada a conteúdos e interações potencialmente perigosas no ambiente virtual.
Apesar de grande parte dos adolescentes declararem ter recebido alguma orientação sobre o uso da internet, 94% afirmam não saber como proceder em situações de risco de violência, como denunciar esses casos. A reação mais comum diante desses contextos é o bloqueio de perfis suspeitos, em vez da formalização de denúncias. Isso contribui para a subnotificação do problema e dificulta ações mais efetivas de combate à violência. Além disso, apenas 35% dos adolescentes mencionaram algum tipo de controle das atividades digitais por parte dos pais e 45% defenderam explicitamente o direito à privacidade online.
A percepção de insegurança também varia entre os gêneros. Enquanto 21% das meninas afirmaram sentir-se inseguras on-line, apenas 10% dos meninos relataram o mesmo. Elas também registraram maior incidência de bullying virtual.
Instagram é um dos aplicativos mais inseguros, aponta os adolescentes
A pesquisa identificou 14 formas de violência vivenciadas por adolescentes em ambientes digitais, divididas em quatro categorias: privacidade e segurança, ameaças e assédio, conteúdo sensível e discussões online. As violações mais recorrentes incluem invasão de contas, pedidos de fotos e dados pessoais, bullying, comentários ofensivos e exposição em grupos. Entre os ambientes virtuais mais citados como inseguros, o Instagram lidera com 68% das menções, seguido pelo jogo Roblox, com 12%. Também foram destacados os riscos do jogo Free Fire, associado ao assédio verbal, e do TikTok, com exposição a conteúdos inadequados.
Diante desse cenário, o estudo recomenda ações integradas para conscientizar e prevenir, como canais de denúncia acessíveis, campanhas educativas sobre privacidade, apoio emocional em escolas e capacitação de pais e educadores para identificar e acolher sinais de sofrimento. “O ChildFund Brasil tem alertado sobre a importância da educação digital de crianças e adolescentes, para prevenir os casos de todas as formas de violência online. Acreditamos que somente assim, podemos mudar essa realidade. Por isso, a organização tem investido em metodologias e cursos que ensinam como navegar com segurança. É importante que as famílias também aprendam, para saber ensinar”, ressalta Mauricio.
Políticas públicas devem ser reforçadas
Com 58 anos de atuação no Brasil, o ChildFund Brasil reforça a urgência da criação e do fortalecimento de políticas públicas que garantam a proteção da infância também no ambiente digital. A organização defende que o país avance na adaptação de experiências internacionais bem-sucedidas, respeitando as realidades jurídicas, sociais e econômicas do Brasil.
Entre as medidas apontadas estão a criminalização de condutas específicas, como grooming e sextorsão, a exigência legal de tecnologias de detecção de conteúdo abusivo por plataformas digitais, como o PhotoDNA, e a padronização de protocolos intersetoriais entre conselhos tutelares, forças de segurança e serviços de saúde. Além disso, o acompanhamento das vítimas após a denúncia, prática já adotada em países como Canadá e Austrália, pode ser uma forma de evitar novos traumas e favorecer a reintegração social.
“É urgente promover ações educativas contínuas, que vão além das orientações genéricas sobre o uso da internet, e ofereçam aos adolescentes conhecimento concreto sobre como se proteger e denunciar abusos online. O incentivo a atividades offline, o fortalecimento das redes de apoio familiar e a formação de educadores e responsáveis também são caminhos para reduzir os riscos enfrentados por crianças e adolescentes no mundo virtual”, complementa Maurício Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil.
Para saber mais informações sobre a pesquisa completa, acesse o site do ChildFund Brasil, em http://www.childfundbrasil.org.br.
O ChildFund Brasil é uma organização que atua no desenvolvimento integral e na promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, para que tenham seus direitos respeitados e alcancem seu potencial. A fundação no Brasil foi em 1966, e sua sede nacional se localiza em Belo Horizonte (MG). A organização faz parte de uma rede internacional associada à ChildFund International, presente em mais de 70 países e que gera impacto positivo na vida de 14,8 milhões de crianças e suas famílias; e está entre as 25 melhores organizações do Brasil, segundo o ranking emitido pela The Dot Good, foi eleita a melhor ONG de assistência social do Brasil em 2022 e a melhor para Crianças e Adolescentes do país, por três anos (2018, 2019 e 2021), pelo Prêmio Melhores ONGs.