Sanções à Rússia podem estimular a utilização de canais para transações financeiras escusas
Especialistas alertam que os últimos acontecimentos podem, inclusive, causar um aumento em ações de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo
Diariamente as sanções à Rússia ganham novos patamares. Até o momento mais de 50 medidas já foram anunciadas pelos Estados Unidos, União Europeia e outros países. Essas decisões impactam diretamente na economia do país e do mundo e têm como principal objetivo, buscar formas de travar o ataque russo à Ucrânia.
Porém, as consequências da guerra podem não ser apenas de vidas ceifadas, relações geopolíticas e econômicas. O momento pode também gerar um incentivo para que ocorram crimes financeiros em outras localidades não envolvidas diretamente, com a intenção de burlar as medidas restritivas em países que até então não anunciaram sanções. “Temos hoje muitas sanções financeiras, bloqueio de bens e também a atenção mundial voltada para empresas russas e suas transações. Para continuar com as suas movimentações financeiras, essas empresas buscam canais alternativos para suas transações e, em alguns casos, podem representar até mesmo uma burla aos controles sobre operações financeiras, estimulando a lavagem de dinheiro, financiamento ao terrorismo e outras outras atividades financeiras ilícitas, já que a atenção principal hoje, está no conflito”, explicou Jorge Lasmar, Doutor em Relações Internacionais pela London School of Economics and Political Science (LSE) e membro da Comissão de Certificação Profissional em Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo do IPLD - Instituto de Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro.
Bernardo Mota, presidente do IPLD, destaca que a principal sanção financeira, que é a exclusão da Rússia do sistema bancário internacional, por exemplo, o sistema Swift, pode acarretar em uma corrida para que os ativos financeiros passem a utilizar outros meios de circulação. “Com essa medida, não há como realizar transações financeiras, já que o sistema Swift agrega mais de 11 mil bancos de quase todos os países do mundo. O que há de problema nessas ações, é que a Rússia não ficará parada economicamente e poderá utilizar outros canais, inclusive com transações de dinheiro em espécie ou outros meios de pagamento, bem como redes informais de remessas, principalmente por meio de países que ainda não adotaram medidas de restrição ou exclusão da Rússia de seus sistemas interbancários”, esclareceu.
O Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (GAFI/FATF) também se manifestou publicamete contra os ataques russos, ressaltando que isso pode representar uma ameaça à integridade do sistema financeiro internacional e consequentemente levar a que aquele organismo conclame seus membros e a rede global de prevenção e combate à lavagem de dinheiro e ao financimento do terrorismo tomem as medidas necessárias para avaliar os riscos de realizarem transações financeiras com aquele país. “O Brasil é membro do GAFI e, com esse anúncio, provavelmente adotará medidas de segurança para os seus negócios”, explicou.
Sobre o IPLD
Fundado em 2017, o Instituto de Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (IPLD), possui como objetivos ser um centro de estudos, debates, cursos, formação e capacitação a pessoas que atuem ou se interessem pelas temáticas da Prevenção e Combate à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo e Proliferação de Armas de Destruição em Massa (PLD-FTP).