Troca de títulos dão oxigênio para o vestibular UFPR

Troca de títulos dão oxigênio para o vestibular UFPR

Professor comenta novas obras e dá dicas de leitura, interpretação e reflexão para os vestibulandos na prova de Literatura 

A troca de três títulos para o vestibular 2016/2017 da Universidade Federal do Paraná (UFPR) traz outros rumos na prova de Literatura. O próximo vestibular deve respirar novos ares com a entrada de obras importantes, mas sem perder o quesito social como mote. A inclusão de Últimos Cantos, de Gonçalves Dias, Clara dos Anjos, de Lima Barreto e Sermão de Santo Antônio [aos peixes], de Antônio Vieira, devem exigir ainda mais a reflexão dos alunos com as leituras.

Figurando há algum tempo na lista, Lucíola, Bom Crioulo e Poemas Escolhidos saíram de cena e renovam as questões, principalmente se comparadas ao último vestibular. “A prova deixou muito a desejar, apenas seis livros foram contemplados sem qualquer relação entre as obras, o que é pobre em se tratando de uma ampla possibilidade de relacionamento dos livros e as suas temáticas. Lamento apenas a permanência do livro Os dois ou o inglês maquinista, simétrico em tempo com os livros substituídos”, comenta o professor de literatura do Curso Acesso, Marlus Geronasso.

Literatura e realidade sempre se encontram, em qualquer tempo, e no vestibular não é diferente. Por conta disso, as temáticas da desigualdade social, o racismo e sexualidade permanecem, sobretudo por conta das relações do homem com seu meio e a participação dos agentes políticos. A volta do autor Lima Barreto é um exemplo disso, e os alunos devem prestar atenção nessa obra. “Com esse livro, a UFPR resgata um dos seus autores prediletos. Espero uma “questão cheia” neste vestibular. Logo, vale a pena a leitura integral da obra e a sua respectiva reflexão”, aconselha. 

Novos Livros

Para o professor, o livro Sermão de Santo Antônio, escrito em forma de fábula, traz uma forma inédita de prosa para o vestibular com o intuito de elevar a reflexão do aluno-leitor sobre a condição do homem em pleno século XXI. “O sermão nada mais é do que um apelo a humanização das pessoas e os encaminhamentos para as melhores ações à luz da fé. Vejo a possibilidade de se absorver uma bela reflexão sobre a vida”.

As poesias de Gonçalves Dias, presentes em Últimos Cantos, farão parte da vida dos vestibulandos em 2016. Apesar de parecerem complexos, os escritos fazem um registro de uma época com o primeiro período literário, o Romantismo, muito bem representada pelo autor pela legitimidade nacionalista e indianista. Segundo Geronasso, a cobrança que se dará pelo reconhecimento do Romantismo como poesia, dos idos de 1836 a 1881.

A Última Quimera, de Ana Miranda, Claro Enigma, de Carlos Drummond de Andrade, Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, Fogo Morto, de  José Lins do Rego,Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, Os Dois ou o Inglês Maquinista, de Luís Carlos Martins Pena e Várias Histórias, de Machado de Assis, ainda continuam na lista e de forma alguma devem ser deconsiderados em relação aos três novos títulos.

A dica do professor se dá por conta da organização de logística, leitura e estudo. Para ele, uma obra se destaca e pode atrapalhar o desempenho na hora da prova. “Não existe “bicho-papão”, mas a compreensão de Lavoura Arcaica ainda é um desafio para os leitores com ausência de prática. Por conta disso, recomendo que essa leitura se dê no final, ou seja, um dos últimos da lista, podendo ser a “sobremesa” da coletânea”, afirma.

Ler com atenção, refletindo o contexto da obra, suas implicações sociais e as abordagens líricas, narrativas e dramáticas que estão disponíveis também são dicas valiosas para uma melhor interpretação. Ampliar as leituras com o cinema, os resumos e os debates, é relevante. “Aumenta o espectro das compreensões que precisam permear todas as reflexões que as temáticas aludem”, indica.

A pesquisa por resumos e resenhas disponíveis na internet é recomendada, desde que sirva como apoio no entendimento. “Substituir a leitura por resumos é equivocado, pois reduz a análise e a grandeza das reiterações dos autores. Isso é muito ruim para a formação contínua de um intelectual que o é todo universitário. É significativo ter contato com a variedade de pensamentos que autores como Vieira, Machado, Lima, Drummond, e José Lins oferecem. Também por isso, ler é essencial”, conclui Geronasso.