Você sabe como escolher a escola para o seu filho?
Psicopedagoga orienta que os pais devem observar as contradições entre discurso e prática pedagógica e fazer a escolha a partir dos valores da família
Nessa época do ano, pais e mães começam a procurar e visitar colégios para matricular seus filhos, especialmente os que terão contato pela primeira vez com a vida na escola. E nessa hora surgem muitas dúvidas: Como escolher? Ao que devo estar atento? Quais características a escola deve ter? Meu filho vai gostar de estar nesse lugar?
Essa definição é muito particular e deve levar em consideração os valores e princípios de cada família. A psicopedagoga Ana Paula Pamplona, coordenadora pedagógica da Escola Parlenda, explica que é necessário que os responsáveis façam visitas às escolas para que possam conhecer a estrutura, perceber a atmosfera do ambiente e se apropriar da abordagem pedagógica das instituições educativas que poderão ser escolhidas.
Segundo a psicopedagoga, é preciso conhecer pessoalmente cada escola e buscar encontrar pontos em comum com seus próprios valores. “O coração precisa estar tranquilo com a decisão tomada, porque quando as famílias escolhem uma escola elas estão compactuando com os mesmos valores de educação, e esse é um fator determinante”, aponta.
Quanto mais seguros estiverem os pais, mais fácil será a familiarização com a escola por parte do filho, que estará seguro e confiante no novo ambiente. Essa é uma responsabilidade compartilhada entre família e escola. Ana Paula testemunha muitos pais querendo que os filhos escolham a sua escola, mas ela faz um alerta: “A criança pequena ainda não tem experiência suficiente para tomar essa decisão. Cabe aos pais essa missão".
Pais precisam ficar atentos a detalhes
Ana Paula alerta para algumas questões que podem ser relevantes aos pais observarem em cada escola, como, por exemplo, de que forma a escola trata as questões de alimentação, qual o tempo que o filho vai ter para brincar, ou então, no espaço da escola, como as pessoas se tratam entre si.
Ana Paula afirma que, se a família tem como princípio uma alimentação saudável, não há compatibilidade em matricular o filho em uma escola que tenha no cardápio alimentos gordurosos ou industrializados. Assim, também acontece com o relacionamento da família com os eventos da escola. “Se uma mulher realizou o sonho de ser mãe e este é um valor muito importante comemorar o Dia das Mães, uma escola que não celebra esse dia pode ser frustrante para ela. São detalhes como esse que fazem a diferença”, assinala.
Discurso x prática pedagógica
Outro cuidado na escolha do colégio deve ser sobre as contradições entre discurso e prática pedagógica e isso se observa em questões sutis. A psicopedagoga orienta que, se no discurso a escola valoriza os saberes das crianças e as suas produções, as famílias devem ficar atentas às paredes do espaço, que devem estar preenchidas com desenhos, fotos, frases, documentações pedagógicas que valorizam os saberes e pensamentos das crianças. “Normalmente, as escolas defendem que é preciso respeitar o ritmo de aprendizagem de cada criança, mas os cadernos de todas elas são exatamente iguais. Isso significa que os ritmos e interesses de cada uma, de fato, não estão sendo respeitados na prática”, alerta.
Outra questão importante é sobre o lugar que o professor ocupa na sala de aula. Se ele fica na frente, perto do quadro, numa mesa distante das crianças, isso revela uma atitude de distanciamento. Como se o professor fosse o único detentor do conhecimento.
Se o professor não tem uma mesa distante, significa que o lugar que ele ocupa é de facilitador e parceiro de aprendizagens, afinal, pode circular entre as crianças, sentar em roda com elas, participar do cotidiano de modo ativo e presente, assim, os processos de conhecimento tornam-se mais coletivos, fluídos e respeitosos.
Ana Paula informa que o espaço físico das escolas conta mais sobre os valores defendidos do que o discurso formal. Exemplo disso é a observação de como são as salas de aula: são formadas por carteira enfileirada uma atrás da outra, ou com espaços para que as crianças se movimentem? “Existem escolas bonitas, novas, que trazem tecnologia e tudo limpo e organizado. Porém, não tem marca das crianças, não é espaço de vida, porque sujeira e desordem fazem parte da infância e isso precisa estar expresso na própria estrutura física da escola”, analisa a coordenadora pedagógica da Escola Parlenda.
As próprias famílias precisam se perguntar como estão se sentindo no espaço: acolhidos, receberam atenção, foram ouvidos? Porque é isso que os filhos precisam também sentir. Ana Paula defende que pai e a mãe também precisam olhar para outras formas de aprendizagem, que envolvem o social, o emocional, a subjetividade, a autonomia, a cidadania e o meio ambiente.
Uma última dica da psicopedagoga ao escolher a escola é sobre a própria forma como acontece essa visita, se teve horário marcado, se o profissional fez questão de acompanhar os pais e se a equipe se preparou para recebê-los. “Tempo de atenção de qualidade, respeito e acolhimento também são valores que podem ser observados nesse momento”, conclui a psicopedagoga.