Com desfile às escuras, Heroína – Alexandre Linhares apresenta sua 36ª coleção, na Casa Hoffmann
Modelos entraram apenas na fila final sob o discurso: o Rei está nu!
O conto “A Roupa Nova do Imperador”, do dinamarquês Hans Christian Andersen, deu o tom inicial da coleção “o rei está nu”, da Heroína – Alexandre Linhares, dentro do Moda Documenta, apresentado na última sexta-feira, dia 13 de maio, na Casa Hoffmann. Com desfile surpreendente, narrado no escuro, a marca curitibana agradeceu e pediu bênçãos à família Hoffmann -imigrantes austríacos que montaram na primeira edificação da rua Claudino dos Santos sua residência, sua loja de tecidos e sua tecelagem. Na narrativa, foi incluída uma pequena história de cada “modelo” (amigos e clientes), como eles “entraram” na vida dos criadores e um pouco da concepção de cada traje. “O objetivo foi questionar a era da imagem, por isso falamos da pessoa que estava vestindo, como ela entrou na nossa vida, e os detalhes principais de cada peça”, diz Alexandre Linhares. “Decidimos primeiro criar a imagem mental no público, de acordo com suas referências de vida e gosto pessoal e só apresentamos as peças na fila final do desfile.”
Os modelos ficaram sabendo como seria a performance instantes antes do início da apresentação. A data de 13 de maio, dia da Abolição da Escravidão, também esteve presente em mais um manifesto referente à memória da roupa - “o que já fazemos há 9 anos” - , e o descarte de pessoas e de materiais. E por fim, ressaltar que interno e externo caminham juntos, “só identificamos aquilo que temos dentro de nós”.
Nas peças apresentadas, foram usados tecidos de lençol doados por clientes, sacos antigos de café, resíduos da indústria têxtil, cortinas antigas e tudo o mais que tivesse história para contar. E foi essa a discrição passada para os parceiros da apresentação, como a Oficina da Gasp, Linina Bolsa, Luan Valloto, Letícia Utime e Rodrigo Alarcón: os acessórios precisariam ter história. Os cabelos, assinados por Gabrielle Moura, resultaram em esculturas na cabeça, referenciadas ao século XIX, e a beleza seguiu a mesma linha, com pele branca e maçãs rosadas, assinada pela Aline Elena.
Como em toda coleção da Heroína – Alexandre Linhares, as estrelas foram escolhidas por afeto e são elas quem alinhavaram o discurso. A cantora e compositora Katia Horn tem tudo a ver com a história, é interprete de “Ilíada”, uma artista completa com presença e estética admirável. Giuliano Robert, o rosto masculino da coleção, é diretor e fotógrafo. “Foi escolhido por ser surdo e isso representa a nossa voz hoje: se não existe o código de linguagem, não existe a comunicação”, arremata Linhares.
As roupas do desfile já estão disponíveis na loja-ateliê da Heroína, na Rua Prudente de Moraes, 445.