Oratória fica mais fácil se desenvolvida ainda na infância, defendem educadores
Professoras dão dicas para aperfeiçoar a capacidade de comunicação oral e persuasão, habilidades essenciais para qualquer profissão
Saber falar em público e ser articulado para debater e argumentar sobre diferentes assuntos são habilidades importantes para a interação social e uma das mais exigidas no mundo do trabalho. Desenvolver o pensamento crítico e, principalmente, a autoconfiança em expressar opinião é um processo que deve ser iniciado cada vez mais cedo, defendem os educadores. Nos Estados Unidos, por exemplo, há o incentivo à oratória em crianças, seja por meio de alguma disciplina na escola, ou dos tradicionais concursos de oratória, ou, ainda, de discursos em celebrações familiares.
Segundo a professora de Língua Portuguesa do Colégio Positivo - Londrina, Danielle Bartelli Vicentini, a cultura do Brasil e, de modo geral, de países menos desenvolvidos, não propicia o desenvolvimento da oratória desde cedo. “Por aqui, ainda há certo tabu sobre o tema, porque acredita-se que pessoas tímidas não podem ser boas oradoras, e que não se aprende a ser bom comunicador, apenas se ‘nasce’ sabendo. Mas a verdade é que quanto antes a oratória for ensinada e aprendida, mais benefícios vai trazer para nossas crianças agora e no futuro profissional”, pontua.
A gerente do Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento (CIPP) do Colégio Positivo, Maria Fernanda Suss, concorda com Danielle e destaca que a oratória fará parte da vida profissional independentemente da área escolhida. “Trabalhar esse aspecto desde a infância permitirá destravar e desenvolver essa habilidade. Nas escolas, essa prática está presente em sala de aula nas apresentações de trabalho e dinâmicas do dia a dia de interação entre professores e alunos. Porém, vai além, passando pela interação entre as crianças, que têm mais confiança em expor a sua opinião, até encontrar com mais facilidade solução para possíveis problemas”, comenta.
De acordo com Danielle, um dos maiores empecilhos de se sair bem em uma discussão ou debate é o nervosismo e despreparo em relação ao assunto que está sendo tratado, aliado à postura. “A comunicação oral é pré-requisito em praticamente todos os ramos do conhecimento humano. Quando se fala em oratória, mais do que conhecer e se aprofundar no assunto a ser transmitido (linguagem verbal), é preciso que o aluno saiba utilizar a seu favor outros meios de comunicação (linguagem não verbal), tal como a expressão corporal. Em suma, o sucesso da comunicação não está apenas naquilo que se diz, mas como se diz”, reitera.
Para se sair bem em discussões, debates, apresentações de trabalhos ou qualquer outra ação que precise ser feita em público, conseguindo expor o ponto de vista de forma que as outras pessoas entendam, a professora Danielle repassa algumas dicas importantes:
Analise o público para o qual você está falando.
Empregue a linguagem adequada, e cuide do vício de linguagem.
Faça um esboço, mesmo que mentalmente, sobre o assunto, com começo, meio e fim. Por isso a importância de saber fazer resumos.
Estude o assunto, pesquisa e fundamentação, para não se contradizer ou passar vergonha por conta de um conhecimento superficial sobre o tema.
Leia e assista noticiários para ficar por dentro dos acontecimentos, evitando assim a alienação e propagação de fake news.
Cuide da postura, emissão de voz, pronúncia e articulação das palavras para ter clareza na explanação.
Trabalhe a linguagem corporal. Ela demonstra segurança e desenvoltura do orador. Técnicas teatrais podem ajudar.
Seja ético, sem plágio.
Tenha em mente que há limites para a liberdade de expressão.
Saiba ouvir, pois um bom ouvinte tem maior capacidade argumentativa, que é a base de uma boa comunicação.
Os pais também podem contribuir para melhorar a capacidade de comunicação e oratória dos filhos, desde cedo. Confira algumas sugestões:
Incentive a leitura de jornais, revistas e sites.
Crie momentos para debate de temas diversos entre a família.
Faça jogos de mímicas e trava línguas.
Aproveite momentos juntos como almoço, jantar e finais de semana para conversar sobre assuntos variados, a fim de despertar o interesse e a curiosidade dos adolescentes. Sempre procurando saber o que pensam sobre o assunto.
Incentive a fazer curso de teatro, que auxilia na linguagem corporal, desenvoltura e segurança, por exemplo ou, ainda, monte e incentive a criação de peças de teatros em casa.
Ensine sobre a hora de ouvir e argumentar, respeitando sempre a opinião do outro, mesmo que contrária à sua.
E, para quem quiser se aprofundar ainda mais sobre como ter mais desenvoltura ao falar em público, a professora recomenda alguns livros:
“TED: falar, convencer e emocionar. Como se apresentar para grandes plateias”, de Carmine Gallo.
“Comunicar para liderar”, de Milton Jung e Leny Kyrillos.
“A arte de falar em público”, de Stephen Lucas.
“Falar bem é fácil”, de Lena Almeida e Eunice Mendes.
“Os 7 princípios da persuasão”, de Bill McGowan.