Metodologia de ensino triplica o índice de aprendizado em sala de aula
"Instrução pelos colegas" transforma alunos em agentes ativos de aprendizagem
É comum imaginar que aulas com números e cálculos, como as de física por exemplo, são monótonas e difíceis, certo? Não nas aulas de física do professor José Motta, em Curitiba (PR). Os alunos do Ensino Médio do 2º e 3º ano do Colégio Positivo aprendem com uma metodologia diferente adotada por ele: a peer instruction, ou instrução pelos colegas, em inglês.
Desenvolvido na Universidade de Harvard pelo professor Erik Mazur, na década de 1990, o método peer instruction reorganiza a sala de aula, tornando o aluno a peça central de aprendizagem e não mais o professor. "Mais do que repassar conceitos, meu papel em sala de aula é questionar e direcionar os alunos. Dessa forma eles buscam a informação e transformam os dados em conhecimento de forma ativa", analisa o professor Motta. Ou seja, em outras palavras, ao invés de apenas decorar a matéria, passa-se a aprender ativamente.
E como funciona esse método na prática? Com uma pergunta no quadro-negro e um clicker (aparelho eletrônico semelhante a um controle remoto) na mão, os alunos reúnem-se em duplas para resolver e responder o problema apresentado. Ao encontrar a solução, eles digitam a resposta no aparelho que envia a informação para o professor. Dessa forma, quando todos os alunos mandam suas respostas, o professor consegue, em tempo real, analisar o índice de acertos da turma. "Se a taxa de acerto ficar em no mínimo 70%, é preciso fazer uma breve explicação da questão e seguir para a próxima questão. Se o índice ficar entre 70% e 30%, a turma deve formar grupos para discutir a solução correta do exercício" explica Erik Mazur. Se o índice de acertos ficar abaixo de 30%, o conteúdo é retomado pelo professor até que as dúvidas sejam sanadas. "A meta é sempre alcançar 100% de acertos para garantir que os alunos estejam todos no mesmo nível", analisa Mazur.
Pesquisas desenvolvidas pelo criador do método apontaram que o nível de retenção de informação pelos estudantes durante as aulas convencionais é de apenas 20%. Quando a responsabilidade de achar a solução foi repassada aos alunos, esse índice subiu para 60%. A opinião de quem está experimentando a metodologia pela primeira vez é positiva. A aluna Bruna Pauletti, por exemplo, afirma que passou a se interessar mais por física, antes uma matéria temida. "Esse método é eficiente por que prende a nossa atenção e deixa a aula mais dinâmica. Antes eu acabava me distraindo e não aprendia o conteúdo", comenta. Para Gustavo Ramos, colega de sala de Bruna, o uso de tecnologia torna tudo mais dinâmico. "A gente sai da dinâmica tradicional do professor em frente ao quadro e também aumenta o interesse no resultado da questão e no desempenho da turma", afirma ele. A respeito de trabalhar em dupla, ambos têm a mesma opinião - compartilhar conhecimentos é o melhor caminho para dominar o conteúdo.
Além de compartilhar a responsabilidade com o aluno, a nova metodologia também cobre alguns espaços deixados pelo ensino convencional. Ao discutir a questão com a sua dupla, todos os estudantes da turma têm a chance de tirar dúvidas ou reforçar conceitos naquele momento, algo que o professor nem sempre consegue realizar em uma sala de aula com 30 pessoas, por exemplo. Na opinião de Motta, a instrução pelos colegas oferece vantagens tanto por ser uma abordagem diferenciada e também por individualizar o ensino. "Nem todos aprendem na mesma velocidade e corre-se o risco de deixar para trás alunos que precisam de mais atenção ou até de perder a atenção de alunos que tendem a captar o conteúdo de maneira mais rápida", pondera.