"Assédio ou brincadeira", por Andréa Ladislau, doutora em psicanálise

 

 

 

"Assédio ou brincadeira", por Andréa Ladislau, doutora em psicanálise

Em uma semana onde muito tem se falado sobre assédio em ambiente corporativo, como identificar quando a intimidade no local de trabalho entre os colegas, passa dos limites e ultrapassa a barreira de uma simples brincadeira ou descontração para ser um assédio moral, psicológico ou até sexual? Vamos primeiro falar o que vem a ser o assédio. Assediar é o fato de expor o indivíduo a situações de constrangimento e/ou humilhações. O constrangimento e humilhação em alguns casos pode estar associado ao ambiente laboral da pessoa, que acaba sendo exposta a situações hierárquicas autoritárias e sem simetrias, permeadas de relações desumanas, sem ética, negativas e psicologicamente prejudiciais ao trabalhador.

Muitos confundem o assédio como sendo legitimado apenas por ações realizadas através de piadas, críticas, insultos e ameaças. Mas não é só isso, o assédio pode estar vinculado a pressão excessiva, a uma proposital sobrecarga de tarefas, imposições de horários absurdos, isolamentos, instruções imprecisas, que podem induzir ao erro, exposição da pessoa, e também a utilização do seu poder de liderança para assediar sexualmente um parceiro de trabalho. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.

Olhando com um olhar mais apurado e cuidado para o assédio sexual ou moral, que é praticado no local de trabalho, podemos afirmar que é um processo deliberado por perseguição, mesclado por atos repetitivos e, sobretudo, prolongados. Constata-se nele o objetivo de humilhar, constranger, inferiorizar e isolar o alvo, seja ele quem for no grupo social. Portanto, se devidamente comprovado, subordinado ou superior, são passíveis de receber indenização, no caso de quem seja a vítima.

Pesquisas apontam que 42% dos trabalhadores brasileiros já sofreram ou sofrem algum tipo de assédio no mundo corporativo hoje. Um número extremamente expressivo e que pode acarretar consequências psicológicas e sociais em quem passa por este tipo de violência.

O Assédio é toda e qualquer conduta abusiva de gestos, palavras, escritos, comportamentos e atitudes, que de forma intencional e frequente venha a ferir a dignidade e integridade física e psíquica de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho, seja de forma direta (através de insultos, acusações, gritos, humilhações públicas e exposição do outro ao ridículo), ou mesmo de forma indireta (através de isolamentos, fofocas, propagação de boatos, recusa na comunicação, exclusão social, acuamento sexual, propostas indecentes...).

E quando podemos caracterizar o fato como um assédio ou uma brincadeira? Primeiro, temos que observar se a ação é repetitiva e se está gerando constrangimento e angústia na vítima. A questão deixa de ser uma brincadeira quanto está carregada de mau gosto, de um caráter vexatório que acaba fazendo com que a pessoa não se sinta mais confortável naquele ambiente, não tenha mais vontade de produzir ou não tenha mais condições psicológicas para isso.

Em alguns casos é tão grave que o profissional perde a vontade de levantar da cama para cumprir seu horário de trabalho, pois lembra-se do ambiente, do que pode vir a sofrer naquele dia e com isso alguns sintomas começam a se desenvolver. São eles: depressão, síndrome do pânico, ansiedade excessiva, medo generalizado, estresse, distúrbios bipolares e alterações de humor. De fato, são danos e violência de natureza psicológica que atentam contra a dignidade psíquica do indivíduo, por meio de ações as mais diversas, compreendendo gestos, palavras e atitudes, que humilham, degradam e atingem reiteradamente a vítima, visando desestabilizá-la, isolá-la ou eliminá-la do local de trabalho. Se as “brincadeiras” no local de trabalho estão causando em você sensações e sentimentos como, crises de choro, dores generalizadas, palpitações, tremores, sentimentos de inutilidade, insônia ou sonolência excessiva, depressão, diminuição da libido, sede de vingança, aumento da pressão arterial, dores de cabeça frequentes, distúrbios digestivos, tonturas, ideia de suicídio, falta de apetite, falta de ar, necessidade de fuga para a bebida. Enfim, se o ambiente de trabalho lhe causa mais de um destes sintomas, as investidas não devem ser consideradas como “brincadeiras”. Elas são sim assédio, pois causam desconforto, exposição vexatória, isso quando não causa o afastamento do trabalho para tratamento de saúde, uma vez que a vítima de assédio trabalha com medo, acuada, estressada, abatida, confusa, perde sua tranquilidade, fica insegura, sem possuir, portanto, as condições ideais para que desempenhe adequadamente suas funções. Esse quadro adverso afeta o trabalhador e reduz a sua produtividade. Aumentando também as tensões dos relacionamentos interpessoais. E, não se engane, o assédio não escolhe sua vítima, pode acontecer tanto com homens, quanto com mulheres.

Ao perceber que está passando por um processo de assédio no trabalho, a vítima deve tomar algumas medidas, como: anotar, com detalhes, todas as humilhações e investidas sofridas: dia, mês, ano, hora, local, nome do agressor, testemunhas e conteúdo das conversas; Dar visibilidade às situações, procurando a ajuda de colegas que testemunharam ou que sofrem as mesmas humilhações ou constrangimentos; ou que possam perceber que existe também, além de moral, uma conotação sexual ou moral no contexto. Evitar conversas particulares com o agressor e agente do constrangimento.

Enfim, devemos estar atentos ás situações nas quais somos envolvidos em nosso cotidiano corporativo. Como vimos, nem sempre uma simples brincadeira é uma simples brincadeira. Se ela for repetitiva e causar danos morais e mentais, como os citados, não tenha dúvidas de que está sofrendo assédio. E, infelizmente, seja em empresas pequenas ou grandes, isso é muito comum acontecer. Bem verdade que, empresas menores o assédio pode ser facilitado pelo fato de que a intimidade pode ser maior entre as pessoas e, desta forma, pode ultrapassar os limites do permitido.

A falta de respeito, falta de sensibilidade e empatia são, certamente pilares utilizados por estes assediadores, seja ele de qual tipo for, moral ou sexual. Busque ajuda, comente com as pessoas mais próximas o que está acontecendo, buscando assim apoio e testemunhas possíveis. Calar-se não é a melhor estratégia. A ajuda profissional de um psicólogo ou psicanalista será de suma importância para que você perceba que não está sozinho e, mais que isso, conquiste sua autoestima, seu amor próprio e enxergue que nada vale mais que sua saúde mental, que seu equilíbrio físico e emocional. Não se deixe adoecer pelas atitudes do outro. Passamos muitas horas de nosso dia dentro do ambiente de trabalho rodeado de outras pessoas que, naturalmente, possuem crenças, valores, sonhos e desejos, divergentes dos nossos. Além disso, para viver feliz e consciente de seu papel dentro do universo corporativo, a harmonia, o respeito e o limite nas relações e nos ambientes, não podem, de forma alguma, estarem desvinculados da produtividade e dos resultados.

Dra Andrea Ladislau

Psicanalista

* Doutora em Psicanálise

* Membro da Academia Fluminense de Letras - cadeira de numero 15 de
Ciências Sociais

* Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde

* Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social

* Professora na Graduação em Psicanálise

* Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US
Ambassador In Niterói

* Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em
Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo.

* Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint
Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.

 

 

 

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ONG fundada em Curitiba fica entre as 100 melhores do Brasil

 

 

 

ONG fundada em Curitiba fica entre as 100 melhores do Brasil

Instituição que une futebol e desenvolvimento social é reconhecida pelas boas práticas em governança, transparência, comunicação e financiamento

O Instituto Futebol de Rua, fundado em 2006, em Curitiba (PR), foi reconhecido como uma das 100 melhores organizações sem fins lucrativos do Brasil. O Prêmio Melhores ONGs anuncia anualmente, desde 2017, as instituições brasileiras do terceiro setor que são reconhecidas por suas boas práticas em quesitos como governança, transparência, comunicação e financiamento.

Com sede na capital paranaense e núcleos espalhados em 22 cidades de 12 estados, o Instituto Futebol de Rua alcança esses quesitos ao utilizar o esporte como ferramenta para o desenvolvimento social, tendo como foco o enriquecimento educacional e cultural de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Para o fundador do Instituto Futebol de Rua, Alceu Natal Neto, o reconhecimento como uma das 100 melhores ONGs do Brasil é o resultado de anos de muito trabalho de mais de 500 voluntários e profissionais que se dedicam ao projeto. “O ano de 2020 foi de desafio para todos. Primeiro e principalmente para as famílias que atendemos, que viveram uma realidade de dificuldades ainda maiores. Depois para nossa equipe, que precisou se reinventar para não deixar que esses jovens e crianças ficassem desassistidos”, afirma.

Os trabalhos desenvolvidos no Instituto já alcançaram mais de 18 mil crianças e adolescentes ao longo dos 14 anos de história. Por ser uma organização sem fins lucrativos, o Instituto se mantém com o apoio de parceiros, doações e com o trabalho de voluntários que dedicam parte de seu tempo às atividades da ONG. Com as atividades suspensas desde março, o Instituto também realizou ao longo do ano uma série de ações em apoio às famílias atendidas. De abril até novembro, foram 35 ações, com distribuição de oito toneladas de alimentos, 2000 itens de higiene pessoal, 1110 sopas e lanches e 1300 litros de leite, impactando mais de sete mil pessoas. Também foi realizada, em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA), a entrega de 330 chips de telefone.

Ações contínuas

Entre as iniciativas fixas do Instituto estão os projetos “Futebol de Rua pela Educação”, que promove a inclusão social por meio do esporte, “Jogando Juntos”, trabalho para fortalecer vínculos sociais e driblar a desigualdade, o “Aprendiz do Futebol”, que oferece uma formação profissional aliada aos conceitos do esporte, e o “Football for Hope”, projeto patrocinado pela FIFA que apresenta o futebol como ferramenta para desenvolvimento humano. “Nosso lema sempre foi transformar as dificuldades em aprendizados e esperamos seguir dessa forma por muitos anos”, diz.

A cerimônia do Prêmio Melhores ONGs será online e acontece no dia 10 de dezembro.

Para conhecer mais sobre o Instituto Futebol de Rua é possível encontrar outras informações no site https://www.futebolderua.org.

Sobre o Instituto Futebol de Rua

Criado em 2006, o Instituto Futebol de Rua é uma organização sem fins lucrativos que utiliza o esporte, a educação e a cultura como ferramentas para o desenvolvimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Presente em 12 estados, 22 cidades e com mais de dois mil beneficiários, o Instituto conta com metodologia exclusiva que alia aulas de formação humana ao futebol de rua.

 

 

 

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Como planejar encontros de fim de ano com segurança

 

 

 

Como planejar encontros de fim de ano com segurança

Laboratório oferece três tipos de testagem para COVID-19 e resultados em até 2h

Final de ano é sinônimo de reuniões familiares, confraternizações e aglomeração. Em meio a pandemia, é possível planejar um encontro familiar em segurança? Segundo o diretor técnico do LANAC, o especialista em bacteriologia Marcos Kozlowski, todo cuidado é pouco durante este momento em que vivemos. “Em novembro, tivemos um aumento de 300% nos resultados positivos para COVID-19 no laboratório”, afirma. Até o final de outubro, o LANAC realizava 100 a 120 testes por dia, entre sorológico e RT-PCR. Em novembro, a média diária foi de 350 testes/dia.

O laboratório oferece três tipos de testagem para o coronavírus: o sorológico, o antígeno e o RT-PCR. “É possível pedir aos familiares que realizem a testagem antes dos encontros. Neste caso, o ideal é consultar o médico, que irá avaliar cada caso e ver qual metodologia garante maior segurança para todos”, afirma.

O laboratório realizará as coletas até o dia 23 de dezembro, e respeitará o prazo de cada testagem para os resultados. Entre os dias 25 e 27 de dezembro, a coleta será feita somente nas unidades hospitalares. Para quem deseja fazer a testagem para o Ano Novo, coletas feitas até o dia 30 e, entre os dias 1 a 3 de janeiro, coleta apenas nas unidades hospitalares.

Conheça os testes para COVID-19

Fabricado pela Roche, o teste sorológico utilizado no LANAC apresenta registro na ANVISA e conta com o certificado Emergency Use Authorization (EUA) da U.S. Food and Drug Administration (FDA). O teste apresenta 99,9% de especificidade e 98,3% de sensibilidade e identifica s anticorpos totais ( IgG / IgM / IgA). Segundo Kozlowski, quanto maior a sensibilidade, menor a chance de resultados falsos negativos. "Atingimos 99,9% de sensibilidade nesse teste quando é realizado a partir do 14º dia de contágio", explica. O resultado sai em até 24h e o valor é R$200, realizado em todos os postos de coleta do laboratório.

O RT-PCR é considerado o padrão ouro da testagem para COVID.19. Em parceria com o Genoprimer, laboratório especialista em diagnóstico molecular, o resultado sai em até 48h, e indica se a pessoa está com o vírus ativo no organismo. O teste é realizado exclusivamente na sede central, na Rua Itupava, 998, e custa R$350.

No começo de novembro, o LANAC passou a oferecer também o COVID-19 Ag ECO Teste, que faz a detecção de antígeno do vírus da COVID-19, com especificidade de 99% e sensibilidade de 96%. A coleta é feita por Swab, com a secreção nasal, e o resultado sai em até duas horas. Ele é indicado para pessoas a partir do terceiro dia de sintomas ou possível contato com o vírus. Este teste é uma opção em emergências, e é oferecido apenas nas unidades hospitalares do LANAC: Hospital das Nações, Hospital Pilar, Instituto de Neurologia de Curitiba – Hospital INC, Hospital do Rocio, Hospital Vita Curitiba e Hospital Vita Batel e na Unidade Paranaguá.

 

 

 

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Novo relatório da UNODC se debruça sobre as drogas sintéticas e a pandemia

 

 

 

Novo relatório da UNODC se debruça sobre as drogas sintéticas e a pandemia

Dificuldades no tráfico com medida de isolamento social dispara preços e estimula fabricação caseira e clandestina de drogas sintéticas; ecstasy está entre as substâncias que mais preocupam especialistas

Na última semana, a United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC) divulgou um novo relatório, mais aprofundado, de uma avaliação sobre as drogas sintéticas. O documento é um complemento da análise divulgada no mês de junho e que trazia informações sobre o uso de substâncias no mundo no período compreendido entre 2017 e 2018. As drogas sintéticas, correspondem a uma variedade de substâncias, produzidas em laboratórios e que, em geral, são conhecidas pelas diversas siglas, tais como: MDMA (93,4-methylenedioxy- methamphetamina); NBOMe (N-2-Methoxybenzyl- 2,5-dimethoxy-phenethylamina); GHB (ácido gamma-hydroxy butirato, LSD (Dietilamina do ácido lisérgico), entre outras.

O relatório aponta que nos últimos anos, mais de 1.000 novas substâncias psicoativas (NSP) surgiram nos mercados de drogas ilícitas. O grande número de substâncias e a natureza dinâmica do mercado de NSP representam importantes desafios para a oportuna identificação e o desenvolvimento de respostas adequadas às ameaças emergentes para a saúde pública relacionadas a essa tendência de aumento de drogas sintéticas.

Pode-se dizer que o mercado de drogas sintéticas é único. Isto devido à simplicidade, flexibilidade e escalada de fabricação; a disponibilidade de uma ampla variedade de precursores e rotas das drogas sintéticas; a existência de uma grande indústria química e farmacêutica lícita, globalizada, que utiliza substâncias e métodos de produção semelhantes; e sua independência das estações de cultivo e condições ambientais. Consequentemente, a acessibilidade, a disponibilidade e a pureza das drogas sintéticas aumentaram, assim como os danos à saúde associados ao seu uso. A natureza sintética dessas substâncias também permite que os traficantes as comercializem em formas de apresentação cada vez mais diversas, tais como: pós, comprimidos, cápsulas, líquidos, selos, sprays e na forma cristalina. As drogas sintéticas podem, portanto, ser ingeridas, fumadas, inaladas, vaporizadas, cheiradas, injetadas, aplicadas por via sublingual ou usadas como adesivos, supositórios, colírios ou sprays nasais.

O mercado de metanfetaminas se expandiu globalmente durante os últimos anos, sendo que as apreensões mais do que dobrou de 100 toneladas em 2013 para 228 toneladas em 2018. O aumento nas quantidades apreendidas, juntamente com a queda dos preços de varejo e aumento da pureza, apontam para uma dinâmica e crescimento de mercado para estas classe de drogas. No mesmo período, as quantidades anuais globais de anfetaminas apreendidas flutuaram entre 45 e 71 toneladas.
A intenção da UNODC, entre outras finalidades, é investigar como a pandemia interferiu nesse quadro de drogas sintéticas. Ainda não existe um estudo científico epidemiológico concentrado na questão drogas e Covid-19, porque a pandemia é algo recente, mas algumas questões já estão sendo debatidas pelas entidades e especialistas em dependência química.

Nino César Marchi, psicólogo do Centro de Pesquisas em Álcool e Drogas (CPAD) de Porto Alegre e associado da Associação Brasileira de Estudos sobre o Álcool e Outras Drogas (ABEAD) explica que, assim como os outros mercados, o comércio ilegal de substâncias precisou se reinventar para driblar o confinamento e outras medidas de enfrentamento à Covid-19. “Já é possível afirmar que o fechamento das fronteiras causou escassez dos precursores utilizados na fabricação destas substâncias. Esse fator fez os preços de compostos e drogas sintéticas aumentarem. A pureza desses produtos também foi alterada. Imagina-se que, mesmo com dificuldades com o envio de mercadorias pelo correio, o comércio internacional de drogas tenha continuado. A atividade encontrou fluxo por vias marítimas, em grandes contêineres, e aéreas, por meio de jatos particulares, graças ao poder dos cartéis que atuam na venda ilegal desses produtos”, conta.

O relatório aponta também que os jovens, as mulheres e as classes sociais menos abastadas, estão entre as populações que pagam o preço mais alto quando o assunto é o consumo de drogas e pandemia. Isto porque a pandemia trouxe uma instabilidade no que diz respeito à saúde física-mental e à empregabilidade sendo que essas ameaças tornaram a camada populacional mais pobre ainda mais vulnerável ao uso de substâncias. “O tráfico, inclusive, acaba sendo uma forma de sustento encontrada por algumas pessoas, que enxergam nesse mercado obscuro, uma maneira de alavancar a renda”, destaca Nino Marchi.

Esse mercado, por sua vez, também é cíclico e passa por “ondas” e “modismos”. A metanfetamina é uma droga sintética (uma substância psicoativa de ação estimulante do sistema nervoso central, conhecida como como Ice, Tina, Meth, cocaína de pobre, Speed ou cristal) cuja apreensão expandiu nos últimos anos, como aponta o estudo da UNODC. A consequência é o disparo no preço e a pureza do produto, já que esse mercado também está sujeito às falsificações. O uso de compostos desconhecidos pelo público consumidor, torna essas substâncias ainda mais perigosas à saúde.

O relatório também mostra que houve crescimento na apreensão de anfetaminas, em formatos de comprimidos, e do ecstasy. O levantamento baseou-se no desmantelamento de laboratórios de drogas sintéticas, em análises epidemiológicas e, também, em técnicas analíticas sofisticadas no sistema de esgoto dos bairros residenciais para averiguar o consumo dessas substâncias”, informa Nino Marchi.

Outro fenômeno importante que vale ser mencionado segundo o psicólogo é que com o surgimento da pandemia, o distanciamento social, como mediada sanitária, o fechamento de bares, boates e eventos de música eletrônica contribuíram para o menor consumo de NSP por jovens nestes espaços. “Mas provavelmente isso não impediu este consumo em festas clandestinas e as famosas ‘resenhas-reunião’ de amigos em casas e condomínios, apartamentos e pavilhões abandonado, onde se reúnem para tal prática”, salienta Marchi.

Pandemia X dependência química

A pandemia causa um ‘efeito cascata’ quando falamos de dependência química, na opinião de Alessandra Diehl, psiquiatra especialista na área e vice-presidente da ABEAD. Sabe-se que a Covid-19 causou grande tensão nas relações familiares, exacerbadas com o confinamento, além do temor da crise econômica e da letalidade do vírus, que não permite aos familiares se despedirem de um ente querido em caso de óbito. O estresse causado pelo coronavírus interferiu na busca por medicamentos para combater a insônia, transtornos de ansiedade e pânico. “A escassez de opioides farmacológicos também fizeram com que os dependentes desses medicamentos migrassem para o uso de substâncias como álcool, benzodiazepínicos e drogas sintéticas”, pontua Alessandra.

Ela complementa que apesar do consumo do ecstasy ter se mantido estável, essa é a droga sintética mais traficada do mundo e a mais manufaturada nas Américas. Além disso, para ela, a versão mais recente do levantamento da UNODC traz outra informação alarmante: mais de 1000 novas substâncias psicoativas emergiram no mercado. “Isso traz novos desafios para quem trabalha em emergências médicas e também aqueles que trabalham no controle de demanda e oferta de substâncias ilegais. Essas drogas ilícitas são fabricadas de forma caseira e clandestinamente. Estamos descobrindo novos compostos que essas substâncias contêm e uma infinidade de reações adversas que causam ao organismo. São convulsões, danos neurológicos, cardiotoxicidade, além de desidratação, hipertermia e problemas psiquiátricos. Como manejar esses riscos, reduzir danos e prevenir que novos usuários jovens façam uso e experimentação que pode evoluir para dependência? Esse é um grande desafio para a área da saúde mental”, argumenta a vice-presidente da ABEAD.

Pandemia exige novo olhar para a dependência

Nino Marchi enfatiza que os governos, no mundo todo, e especialmente no Brasil, precisam olhar para medidas sanitárias e intervenções médicas para proteger essas pessoas. “Notamos, na última década, redução de verbas para prevenção e tratamento ambulatorial para dependência química. E não é só isso. A Covid-19 trouxe com ela a crise no sistema de saúde. Faltam leitos, diminuíram as consultas, equipamentos, médicos e outros especialistas. Entre os dependentes, entre 15% e 20% têm a possibilidade de receber tratamento adequado, mas nem essa porcentagem consegue ser contemplada neste momento”.

Sobre a adoção de políticas públicas que podem ser aplicadas para diminuir a prevalência de uso de drogas sintéticas, Marchi sugere a interface entre pesquisas de universidades, com verbas públicas e de instituições privadas. “Precisamos de projetos coordenados por especialistas em toxicologia, drogas, políticas públicas, profissionais de perícias, especialistas forenses sobre técnicas para detecção rápida, triagem e confirmação e melhorar o diagnóstico precoce, e também envolver aqueles que estão no front de atuação no controle e prevenção, às famílias e os educadores”, observa Marchi.

A segunda orientação dele diz respeito às questões sócio econômicas: a queda da pobreza, acesso à educação de qualidade e o fortalecimento do estado de direito poderá contribuir e arrefecer a diminuição do mercado de drogas ilícitas, queda da violência, entre outros problemas interligados ao uso de substâncias e tráfico de drogas.

O relatório pode ser acessado na íntegra no link abaixo:

https://www.unodc.org/documents/scientific/Global_Synthetic_Drugs_Assessment_2020.pdf

Onde buscar ajuda?

Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas (CAPS-AD) do município

Narcóticos Anônimos (NA)

 

 

 

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Escalando o Futuro: estudante da UFPR conquista prêmio nacional com projeto sobre acessibilidade e inclusão

 

 

 

Escalando o Futuro: estudante da UFPR conquista prêmio nacional com projeto sobre acessibilidade e inclusão

História em quadrinhos sobre deficiente visual foi escolhida como campeã pelo McDonald's e Aberje; atualmente, multinacional conta com cerca de 1,5 mil PcD em seu quadro de funcionários

O McDonald’s e a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) anunciaram os vencedores da 2ª edição do Escalando o Futuro, iniciativa das duas entidades que tem o objetivo de encontrar e desenvolver jovens talentos em contar boas histórias, proporcionando oportunidades de crescimento pessoal e profissional. Entre os ganhadores está Cecília Nunes de Sá, 21 anos, estudante de Relações Públicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e moradora de São José dos Pinhais. O showtime da final do Escalando o Futuro 2020 pode ser assistido no canal da Aberje no YouTube.

O projeto apresentado pela universitária foi uma história em quadrinhos sobre o McFlurry, uma das mais tradicionais sobremesas do Méqui, e trazia dois personagens e um cenário: uma mulher com deficiência visual, seu cão guia e uma sala branca. Pensando na acessibilidade e na inclusão, Cecília decidiu narrar a história de uma maneira diferente. Na banca, convidou jurados e participantes a fecharem os olhos e imaginarem, apenas por meio da audiodescrição, cada elemento que compunha o enredo.

Cecília conta o porquê de ter decidido apresentar o projeto dessa forma. “O quadrinho tem um ar de mistério, que dá mais asas à imaginação, já que é preciso fantasiar o que aconteceu entre um quadro e outro. Na minha apresentação eu tinha cenário e personagens, e fiz as onomatopeias sozinha. Com isso, provei que dá para contar histórias sem, necessariamente, visualizá-las e mostrar que não é difícil ser acessível”, explica.

Acessibilidade e integração não são temas novos para Cecília, que também os explora em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). No ambiente acadêmico, ela analisa a comunicação pública digital das universidades federais para os públicos de pessoas com deficiência sensorial. Daí veio a inspiração de explorar o assunto para suas ideias no Escalando o Futuro. “Eu sabia que queria trazer acessibilidade de uma forma diferente, brincando com os sentidos e a imaginação das pessoas. Então, juntar esse elemento à história me faz acreditar que trará mais visibilidade ao tema. Comecei a listar as possibilidades de como fazer isso e surgiu a ideia da Sala Mágica”, conta Cecília.

O VP de Comunicação da Arcos Dorados, David Grinberg, afirma que o projeto da estudante de RP tem muito a ver com os pilares de inclusão social estabelecidos pela empresa. “É contínua nossa dedicação para fazer do Méqui um ambiente cada vez mais diverso, acessível e inclusivo para funcionários e clientes. Tanto que em nosso quadro de funcionários temos cerca de 1,5 mil PcD, que atuam em variadas funções em todas as regiões do Brasil. Então, é muito válido integrar essa pauta em todos os nossos canais”, ressalta.

Outros projetos

Em 2020, as etapas foram realizadas de forma 100% online, possibilitando a participação de jovens de todas as regiões do Brasil. Na etapa final e na live de premiação, 12 projetos foram apresentados. Esses preencheram quatro critérios estabelecidos para balizar a avaliação dos jurados: criatividade em storytelling, adequação do projeto com a mídia escolhida, relação e envolvimento com a marca e razoabilidade de aplicação. “Avaliamos critérios técnicos, linguagem do texto, a sacada e a originalidade. A maioria dos projetos abordou questões contemporâneas ligadas à sustentabilidade, à inclusão e à diversidade. O nível dos trabalhos foi excelente”, considerou Hamilton dos Santos, Diretor-Geral da Aberje.

Juntamente com Cecília, outros dois projetos foram vencedores e receberam a premiação de R$ 4 mil. Os escaladores Manoela Cavalheiro, funcionária do Méqui no Rio Grande do Sul, e Italo Brasileiro, que cursa Ciências Biológicas na Universidade Federal da Bahia (UFBA), pensaram em uma websérie interativa que fala sobre escolhas e de como pequenos detalhes podem mudar a vida das pessoas. Já a ideia de curta-metragem chamado “O que desejo”, uma “dramédia” pensada por Victor Prado, estudante da Universidade Federal Fluminense (UFF), contou a história de um jovem que tem medo do futuro e de tomar decisões.

Oportunidade de Desenvolvimento aos Jovens

O McDonald’s é uma das empresas que mais gera oportunidade de primeiro emprego no Brasil. Do total de colaboradores da empresa, cerca de 70% tem menos de 21 anos de idade e está em sua primeira experiência profissional. Foi alinhada a esse propósito que a empresa se uniu à Aberje para criar o programa Escalando o Futuro, uma iniciativa em que a marca aposta para contribuir com o futuro dos jovens talentos da comunicação no país.

História campeã da edição 2019 vira websérie

A primeira edição do Escalando o Futuro foi lançada em 2019. Um dos vencedores da edição foi o universitário Leonardo Marin, ex-funcionário da rede, que teve seu projeto transformado em uma websérie produzida pelo McDonald’s.

Com o título “Meu Primeiro Emprego”, a série conta a história da Hannah, uma jovem que está realizando o sonho do primeiro emprego no McDonald’s e, com a ajuda de uma fada-madrinha, vai tentar fazer do seu primeiro dia um sucesso. Os vídeos já estão disponíveis no site corporativo e no canal do Youtube da Arcos Dorados, empresa responsável por operar a marca McDonald’s na América Latina e Caribe.

 

 

 

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