Doença celíaca afeta 78 milhões de pessoas no mundo

 

 

 

Doença celíaca afeta 78 milhões de pessoas no mundo

No mês dedicado ao trigo, especialista em nutrição dá dicas para quem precisa conviver com o problema causado pelo glúten

Um dos cereais mais consumidos no mundo, o trigo é protagonista na mesa dos brasileiros e conta, inclusive, com um dia em sua homenagem (10 de novembro, Dia do Trigo). Fonte de energia para o organismo e rico em carboidratos, vitaminas, minerais, fibras e outros nutrientes, é utilizado na elaboração de pães, massas, bolos, pizza e biscoitos.

Mais recentemente e por conta da pandemia, ganhou relevância por compor uma das receitas mais procuradas nas redes sociais. A pergunta “Como fazer pão caseiro” bateu recorde de pesquisas no Google durante o isolamento e até o Ministério da Saúde incentivou, via Twitter, que os seguidores aproveitassem o período de isolamento para testar a receita.

Ainda que tenha importância no mercado alimentício brasileiro destacando-se no cenário econômico e social, o trigo é considerado um vilão na dieta de aproximadamente 1% da população mundial diagnosticada com doença celíaca. Isso equivale a 78 milhões de pessoas, pois, segundo a ONU, a Terra já chegou a 7,8 bilhões de habitantes em 2020.

No Brasil, ainda que os números não sejam precisos, a Federação Nacional das Associações de Celíacos (Fenacelbra) estima que 2 milhões de pessoas tenham a doença, muitos ainda sem diagnóstico.

O que é a doença celíaca?

O professor do curso de Nutrição do UNICURITIBA e doutor em Medicina Interna, Ricardo Brito, explica que a doença celíaca é uma condição autoimune, em que as próprias células de defesa imunológica agridem o organismo, levando a um processo inflamatório.

“Nestes casos, a inflamação é provocada pelo glúten, uma proteína encontrada no trigo, na cevada e no centeio. A inflamação é desencadeada no intestino delgado e, por isso, compromete a absorção de nutrientes”, diz o nutricionista.

O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais - como testagem do anticorpo anti-transglutaminase tecidular (AAT) e anticorpo anti-endomísio (AAE) – endoscopia com biópsia e avaliação dos sinais e sintomas do paciente.

Sintomas

Entre os principais sintomas da doença celíaca estão:

• Diarreia crônica (por mais de 30 dias);

• Prisão de ventre;

• Anemia;

• Falta de apetite;

• Vômitos;

• Atraso no crescimento;

• Irritabilidade ou desânimo;

• Distensão abdominal (barriga inchada);

• Dor abdominal;

• Aftas de repetição;

• Osteoporose/osteopenia.

De acordo com a Associação dos Celíacos do Brasil (Acelbra), existem casos assintomáticos que são detectados apenas por exames (marcadores sorológicos) feitos em familiares de primeiro grau do celíaco, que têm mais chances de apresentar a doença (10%).

O tratamento é fundamental em todos os casos, já que a doença pode levar a complicações como o câncer de intestino, anemia severa, abortos de repetição e esterilidade.

“Os pacientes celíacos podem desenvolver ainda fragilidade óssea e outras manifestações associadas ao comprometimento na absorção de nutrientes. Vale lembrar que a doença celíaca se apresenta com mais frequência em portadores de diabetes tipo I, tireoidite de Hashimoto e hepatite autoimune”, comenta Brito.

Tratamento

Tratar a doença celíaca requer comprometimento do paciente e apoio dos familiares. O professor do UNICURITIBA é categórico. “Alimentação sem glúten por toda a vida. Ou seja, trigo, centeio, cevada e malte ou derivados, como farinha de trigo, pão, macarrão, pizza, bolo, bolachas e biscoitos não podem ser consumidos pelo portador da doença.”

Da mesma forma, alerta o especialista e autor do livro “ABCD da Obesidade, Manual de Nutrição Clínica e Gastronomia Aplicada”, é fundamental estimular a prática da leitura dos rótulos de produtos industrializados para que seja identificada ou não a presença do glúten.

Mas boas opções não faltam. Na mesa do celíaco pode ter arroz, feijão, mandioca, milho, fubá, féculas, óleos, frutas (ao natural e sucos), laticínios (leite, manteiga, queijos e derivados), hortaliças e leguminosas (folhas, cenoura, tomate, vagem, grão de bico, ervilha, lentilha, batata, mandioca, cará, inhame e outros), carnes e ovos. “Moderação e equilíbrio fazem a diferença”, ensina Brito.

Tudo fresco e, de preferência, preparado em casa. Na hora de consumir alimentos fora de casa, a regra de ouro da Acelbra é: na dúvida, não consuma. Isso porque mesmo que o produto não tenha, originalmente, glúten em seu preparo, pode haver a contaminação cruzada.

Queridinho no Brasil, o pão de queijo não tem glúten em sua receita tradicional, mas se fabricado em padarias comuns pode ser “contaminado” no preparo ou na hora de assar, já que outros alimentos feitos no estabelecimento têm farinha de trigo como base.

Entre as bebidas, é preciso atenção também. Outro campeão na preferência dos brasileiros, o café deve ter selo de pureza da ABIC. Se o pó for misturado com cevada não pode ser consumido por celíacos, assim como cerveja ou whisky, que contém cevada ou malte em suas composições.

Diferença entre alergia e intolerância ao glúten

O professor do curso de Nutrição do UNICURITIBA, Ricardo de Brito, explica: “A intolerância ao glúten é uma dificuldade fisiológica na digestão do glúten. Já a alergia ao trigo é uma reação de hipersensibilidade à proteína do trigo. Trata-se de uma alergia alimentar em que o indivíduo pode ser sensibilizado inclusive por exposição pelas vias aéreas e pele.” Os dois casos diferem da doença celíaca.

Dietas da moda
A todo instante surgem novas dietas e milhares de adeptos. Alguns decidem, por conta própria, excluir um tipo de alimento do cardápio. Ainda que o objetivo seja controlar o peso e ter a alimentação mais saudável possível, dietas restritivas devem ser feitas sob orientação de um nutricionista.

Especialistas não recomendam que pessoas saudáveis, sem diagnóstico de doença celíaca, eliminem definitivamente o glúten da alimentação. A dica é variar os nutrientes e ter equilíbrio nas porções.

Uma pesquisa realizada no Reino Unido mostrou que o glúten não provoca sintomas gastrointestinais em pessoas saudáveis, desmistificando a visão de que essa proteína seja maléfica em todos os pratos. Os autores do estudo alertam que uma alimentação livre de glúten não é considerada melhor e deve ser desencorajada para pessoas sem problemas de saúde. Na dúvida, procure um médico ou nutricionista.

Receita fácil de pão caseiro sem glúten

Ingredientes

2 xícaras de farinha de arroz;

1 xícara de leite;

3 colheres (sopa) de azeite;

3 ovos;

Sal a gosto;

2 colheres (sopa) de fermento em pó sem glúten;

Ervas-finas a gosto (opcional).

Modo de preparo

Junte todos os ingredientes da receita, menos o fermento, e bata no liquidificador até a massa ficar homogênea.

Caso tenha escolhido usar ervas-finas para dar um sabor especial ao pão, acrescente-as à massa. Por fim, misture o fermento gentilmente com uma colher. Não é necessário deixar o pão crescer como em outras receitas.

Dica extra: Se quiser, acrescente ½ xícara de sementes de girassol na massa, pois elas vão aumentar a saciedade.

Coloque a massa em uma assadeira de pão untada e leve ao forno preaquecido a 210°C por cerca de 40 minutos ou até que fique dourado.

O pão deve ser consumido em até 3 dias.

 

 

 

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Foz do Iguaçu se prepara para atingir novo patamar no turismo de compras global

 

 

 

Foz do Iguaçu se prepara para atingir novo patamar no turismo de compras global

Marca Cellshop Importados Paraguay confirma evolução da legislação aduaneira do Brasil; Grupo vai inaugurar loja no Shopping Catuaí Palladium

Em menos de dois anos, o turismo de compras em Foz do Iguaçu concretizará uma verdadeira transformação por conta de investimentos que estão sendo viabilizados graças ao amadurecimento do regime aduaneiro especial de loja franca, iniciado na última década no Brasil.

Os esforços legislativos criaram condições para que grandes players internacionais como o a Cellshop Importados Paraguay (maior loja de importados do Paraguai), voltassem atenção e recursos para as cidades gêmeas na linha de fronteira. Tais incentivos estão gerando uma série de oportunidades de desenvolvimento econômico principalmente na região da Tríplice Fronteira — Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai).

Não por acaso, a primeira Cellshop fora do Paraguai será inaugurada até o final de 2020 no Shopping Catuaí Palladium, empreendimento do Grupo Tacla Shopping em Foz do Iguaçu. Com 2 mil m² de área, a loja está sendo concebida com foco na experiência dos consumidores e na inovação para integrar esse novo capítulo na história do polo de compras da região.

De acordo com o diretor do Grupo Tacla, Anibal Tacla, esta inauguração vai iniciar um novo capítulo em Foz do Iguaçu. "A localização do Shopping Catuaí Palladium é estratégica para receber lojistas e turistas. Estamos otimistas com esse novo projeto e certamente outras lojas deste segmento estão por vir. Além de expandir o nosso mix de lojas, que já é bastante amplo, podemos dizer que a Cellshop será uma nova âncora do shopping", ressalta.

O CEO da Cellshop Importados Paraguay, Jorbel Griebeler, lembra que esta será a primeira loja do Grupo fora do Paraguai. "No momento, estamos dedicando todos os nossos esforços para criar uma experiência única de loja franca em Foz do Iguaçu para surpreender aos nossos clientes”, antecipa. “Somos uma empresa que se dedica ao turismo de compras e estamos constantemente acompanhando as inovações tecnológicas para que possamos proporcionar a melhor experiência possível aos turistas que visitam nossas lojas. Vemos a inteligência artificial como aliada, possibilitando abrir um leque ainda maior de experiências surpreendentes para os nossos clientes”, avalia Griebeler.

Ele detalha que a Cellshop Duty Free será parada obrigatória na rota do turismo da Tríplice Fronteira. “O Catuaí Palladium está justamente no corredor turístico de Foz do Iguaçu, próximo aos principais hotéis, do acesso ao Parque das Aves, Parque Nacional do Iguaçu e da fronteira com a Argentina. Além disso, o empreendimento conta com uma excelente estrutura e segurança para um investimento dessa envergadura”, destaca.

A segurança jurídica trazida pela Instrução Normativa RFB 1799/18 escalonou as vantagens comparativas da posição geográfica da cidade e escalonou a capacidade de atração de investimentos. “No Brasil, existe um real apoio da Receita Federal para as lojas francas, que se reflete nas melhores condições para abertura de lojas de produtos nacionais e importados”, reconhece Griebeler.
Oportunidade de empregos mesmo na pandemia e de ganhos com a variação cambial

A abertura de uma loja franca no Brasil estava nos planos há mais de um ano e foi acelerada pela pandemia. “Foz do Iguaçu é uma das cidades turísticas mais visitadas do Brasil. Ficamos adormecidos por muito tempo, mas com o retorno gradual das atividades e a exaltação das maravilhas regionais, temos certeza de que os olhos dos investidores começarão a se voltar para a cidade, colaborando com o seu crescimento. Só com essa nova unidade vamos gerar mais de 150 empregos diretos e indiretos”, explica Griebeler. “Acreditamos que a atividade econômica somente voltará ao normal após a disponibilização da vacina. Até lá, teremos que continuar nos reinventando para que possamos exercer nossas atividades de maneira segura para todos os nossos clientes e colaboradores”, acrescenta.

Além da geração de empregos, os moradores da Tríplice Fronteira tendem a se beneficiar economicamente do regime aduaneiro especial de loja franca. A variação cambial, por exemplo, influencia o local de compra. Se a moeda brasileira estiver valorizada, consequentemente, aumentará o poder de compra dos turistas e a procura pelos produtos vendidos em lojas francas. Com a alta do dólar no Brasil, entretanto, são os estrangeiros que podem atravessar a fronteira para comprar mais barato.

Isenção e desburocratização

Com a publicação da Instrução Normativa RFB 1799/18, o mercado brasileiro foi apresentado à modalidade de loja franca prevista em lei desde 2012, quando foi sancionada a lei federal 12.723 que autorizou a instalação de “lojas francas para a venda de mercadoria nacional ou estrangeira contra pagamento em moeda nacional ou estrangeira” em cidades gêmeas na linha de fronteira.

Na sequência, foram acrescentadas normas complementares à Portaria MF nº 307, de 2014, em que o Ministério da Fazenda dispôs sobre a aplicação do regime aduaneiro especial de loja franca em fronteira terrestre. Tais lojas, também conhecidas como free shops são semelhantes às lojas disponíveis em área internacional de aeroportos. Contam com isenção de ICMS e impõem um limite de compras de até US$ 300 por consumidor, a cada trinta dias. “Esse aspecto é o que torna o lado brasileiro muito mais interessante para os investidores, em detrimento do lado paraguaio, onde infelizmente a Lei de Free Shop ainda não existe, e o regime atual é extremamente burocrático”, compara Griebeler.

Para concessão do regime aduaneiro especial de loja franca, quando feita em fronteira terrestre, é necessário que a pessoa jurídica esteja estabelecida no País e cumpra alguns requisitos de regularidade fiscal, como não possuir pendências junto à Secretaria da Receita Federal do Brasil, ter patrimônio líquido igual ou superior a R$ 2 milhões e dispor de sistema informatizado para controle de entrada, estoque e saída de mercadorias, de registro e apuração de créditos tributários e outros dados exigidos pela Coana (Coordenação-Geral de Administração Aduaneira).

Sobre o Grupo Tacla Shopping

Conglomerado com mais de 80 anos de tradição, experiência no varejo e referência no setor em todo país, o Grupo Tacla possui oito empreendimentos nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo, sendo eles: Catuaí Palladium Foz do Iguaçu (PR), Jockey Plaza Curitiba (PR), Palladium Curitiba (PR), Palladium Ponta Grossa (PR), Ventura Shopping Curitiba (PR), Itajaí Shopping (SC), Porto Belo Outlet Premium (SC) e Shopping Cidade Sorocaba (SP). Outras duas operações estão em fase de construção no Paraná: CityCenter Outlet, em Campo Largo e Palladium Umuarama. Mais informações em: http://www.taclashopping.com.br.

 

 

 

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Isolamento social diminui em 11,37% o número de vítimas de acidentes atendidas no Hospital Universitário Cajuru

 

 

 

Isolamento social diminui em 11,37% o número de vítimas de acidentes atendidas no Hospital Universitário Cajuru

Queda acontece na comparação entre os dez primeiros meses de 2019 e 2020. Contudo, médico alerta que relaxamento das medidas de isolamento tende a aumentar acidentes

Nos dez primeiros meses de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019, o Hospital Universitário Cajuru (HUC) registrou queda de 11,37% no número de atendimento a vítimas de traumas causados por acidentes. Dos 8.535 atendimentos realizados no ano passado, o número caiu para 7.565 neste ano.

Apenas os meses de janeiro, março e maio tiveram mais atendimentos a acidentes em 2020 na comparação com 2019. O pico de vítimas registrado pelo HUC ocorreu em março, quando 898 pessoas receberam atendimento. Setembro foi o mês com menos casos direcionados ao HUC em 2020: 637 ao todo.

Mesmo com a queda, na semana em que é celebrado o Dia Mundial em Homenagem às Vítimas de Acidentes de Trânsito (15 de novembro), o Coordenador Médico do HUC, dr. José Fernando Pereira Rodriguez, faz um alerta para a população: os recentes relaxamentos das medidas de isolamento social podem provocar um avanço no número de vítimas, em meio a uma pandemia que ainda não acabou. “A prevenção para salvar vidas no trânsito deve ser constante e redobrada neste momento de pandemia”, explica.

Menos isolamento e mais acidentes

O médico explica que, com o reordenamento de atendimentos do SUS na pandemia, o HUC passou a receber casos de traumas que antes eram direcionados a outros hospitais que agora possuem alas para COVID-19, já que o HUC não é referência para casos de coronavírus. Por isso, segundo Rodriguez, os cuidados para evitar acidentes são essenciais para sustentar o bom funcionamento do sistema de saúde como um todo. “Quanto mais gente estiver na rua, mais acidentes acontecem e isso aumenta a ocupação de vagas”, afirma.

O HUC é um hospital filantrópico que recebe demandas 100% vindas do SUS, sendo referência para casos que envolvem trauma. As vítimas de acidentes de trânsito são encaminhadas pelo SAMU e pelo SIATE, que fazem os primeiros atendimentos dos pacientes. Segundo o dr. Rodriguez, o suporte prévio dado pelos socorristas é fundamental para que pacientes, principalmente aqueles em estado mais grave, cheguem ao hospital com mais chance de recuperação.

Atendimento humanizado

Além da urgência e emergência que funcionam 24 horas por dia, o paciente recebe a continuidade do atendimento necessário em especialidades como neurocirurgia, ortopedia e cirurgia geral. Seja qual for a especialidade, o corpo clínico preza humanização do atendimento, que leva em consideração não apenas a doença ou o trauma, mas o ser humano. “Desde a entrada do paciente e de familiares no pronto socorro, toda a assistência social e espiritual necessária é realizada nesse momento de dificuldades. Esse suporte humanizado passa inclusive pelo atendimento médico e de enfermagem, até a alta do paciente”, explica o dr. Rodriguez.

Sobre o Hospital Universitário Cajuru

O Hospital Universitário Cajuru é uma instituição filantrópica com atendimento 100% SUS. Está orientada pelos princípios éticos, cristãos e valores do Grupo Marista. Vinculado às escolas de Medicina e Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), preza pelo atendimento humanizado, com destaque para procedimentos cirúrgicos, transplante renal, urgência, emergência, traumas e atendimento de retaguarda a Pronto Atendimentos e UPAs de Curitiba e cidades da Região Metropolitana.

 

 

 

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Raiva

 

 

 

Raiva

Daniel Medeiros*

Há algumas semanas tive uma discussão e perdi a razão. Fiquei nervoso e, quando percebi, estava escolhendo frases que eu sabia seriam capazes de provocar mágoa. Também estava me sentindo magoado, mas o que me importava naquele momento era fazer o meu interlocutor sofrer sem notar que a dor que eu estava sentindo eu não deveria querer para ninguém. Desnecessário dizer que não houve nenhum ganho nessa discussão, nenhuma mudança no mundo, nenhuma redenção dos pecadores. Apenas dois corações enlutados por palavras duras e levianas e todo um futuro de amizade e carinho em risco.

Esse é o mal que a raiva faz. E estamos, como sociedade, intoxicados dessa raiva, embebidos dela, encharcados. Uma mera desatenção e já ela se põe em ação, subindo pelo esôfago, arranhando a garganta, queimando os lábios para se expor em frases cheias de arestas pontudas. A senha é dizer algo com o qual não concordamos, é defender teses que negamos, é elogiar pessoas que detestamos ou criticar nossos ícones sagrados. Nem passa mais por nossa cabeça o direito de discordar, de ter opinião, considerando que a opinião é como um parque para crianças, ninguém está ali para levar nada a sério, porque as coisas realmente sérias são as que são demonstradas, fundamentadas e não apenas ditas ao vento. Mas levamos a sério. E tudo, em um segundo, desanda.

Estamos sendo abduzidos por frases e ideias que deveriam ser apenas frases e ideias. O mundo sempre foi assim, isso é um fato. A Alemanha abraçou Hitler e foi a mesma Alemanha que construiu uma das mais sólidas democracias do Ocidente. Nós mesmos saímos às ruas para pedir liberdade para votar para presidente e depois para derrubar uma presidente democraticamente eleita. O que estamos deixando de perceber é que esse “nós" é sempre cheio de “eus" diferentes, bem diferentes, não há nada que possamos fazer. Nossa percepção das coisas é como um poliedro de espelhos com mil faces e, por isso, nunca formamos a mesma imagem das coisas. Tudo é cheio de nuances. Nada mudará isso. Pelo contrário, quanto mais quisermos quebrar os espelhos dos outros, mais a retórica deles será o de quebrar nossos espelhos, até que ficaremos só os cacos de um povo, de uma nação. Uma vendetta sem fim, até que não sobre um único filho vivo de família alguma, todos amaldiçoados por pensarem diferente.

Em algum momento é preciso que haja uma esquina nessa avenida de horrores. Uma inflexão necessária que resgate os valores que estamos pisoteando com nossa raiva, como a paciência, a compreensão, a busca incessante pelo diálogo, a espera, a ação para enraizar as ideias que acreditamos e não para destruir as que nos incomoda. Quando damos conta, estamos todos plantando ervas daninhas, criando bichos peçonhentos, dispostos a rir do que, ao mesmo tempo, abominamos que o outro ria, como se um jogo de bola com uma imitação da cabeça do presidente pudesse ser engraçado sob qualquer circunstância.

Há pouco consegui retomar o contato com a pessoa com quem briguei. Pedi desculpas pelos meus desaforos e prometi melhorar como pessoa. Não me importa se isso é uma vontade dele também. Não estabeleci reciprocidade ou qualquer outra condição. Sou eu quem preciso fazer alguma coisa para que, algum dia, possamos voltar a reconhecer, em casa, nas ruas, as imagens e os gestos com as quais nos identificamos. Ou seremos somente um bando de beduínos cegos perdidos em um deserto sem fim.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo
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@profdanielmedeiros

 

 

 

 

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Reciclagem se aprende na escola

 

 

 

Reciclagem se aprende na escola

Como abordar o assunto em diferentes áreas do conhecimento e conscientizar a nova geração sobre a geração e destinação do lixo, um dos mais graves problemas ambientais da atualidade brasileira

O Brasil gera, em média, 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano, de acordo com a última edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Mas, embora a Política Nacional de Resíduos Sólidos seja lei desde 2010, apenas uma pequena parte desse volume é efetivamente reciclada.

Um estudo encomendado pelo Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (PICPlast), em 2018, mostrou que apenas 22% do plástico descartado foi reciclado. O índice é muito baixo, principalmente quando se olha o cenário internacional. A União Europeia, no mesmo período, reciclou 75% do plástico gerado em seu território. "Esse cenário é consequência de uma cultura que não dá ao tema a devida relevância. Por isso, a escola tem papel fundamental para a construção de um futuro em que a reciclagem seja uma prática mais difundida", afirma a assessora pedagógica da Editora Aprende Brasil, Josimeire de Lima Sobreira.

Para Alexander Turra, professor do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo, responsável pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade dos Oceanos, mudar essa realidade é fundamental para que se possa construir uma economia circular - uma lógica que transforma resíduos em matéria-prima e faz com que o ser humano deixe de pressionar os recursos naturais. "Isso traz mais lucidez ao processo de consumo e descarte”, explica.

Josimeire avalia que o descarte é um dos mais graves problemas ambientais da atualidade. "Em muitos municípios não há aterros sanitários, então ele é feito em lixões, sem nenhum cuidado, fato que provoca danos não só ao ambiente, mas também aos seres humanos”, alerta. Ela explica que a abordagem para que as crianças compreendam a importância da reciclagem passa, primeiro, pela compreensão da realidade vivida por elas.

Gincana de reciclagem

Algumas reflexões podem ser úteis para os professores. Por exemplo, qual é a realidade do município em que a criança vive? Como são feitas a coleta e a destinação do lixo nesse local? “Se possível, é uma boa ideia trazer para a escola alguém que possa falar sobre essa realidade”, aconselha Josimeire. Em seguida, por meio de técnicas lúdicas como jogos, brincadeiras e canções, é preciso gerar a consciência de que a separação do lixo é uma das formas mais simples de cuidar do planeta. Por fim, é fundamental fazer com que essas práticas se tornem recorrentes entre os alunos.

“Uma opção para começar o processo de conscientização é propor, no início do ano letivo, uma gincana cujo objetivo é que cada turma leve para a escola produtos derivados da reciclagem (papel, vidro, plástico, metal), que sejam pesados e, posteriormente, doados e/ou vendidos Assim, quando o ano acabar, a turma vencedora pode ser premiada", propõe. Segundo a educadora, a ideia, além de naturalizar a relação dos alunos com a coleta seletiva, também pode ajudar a levar esse costume para dentro das casas desses alunos, transformando assim os hábitos de famílias inteiras.

Turra destaca que, além do ganho ambiental, a reciclagem traz também um ganho econômico e social, "especialmente voltado a um setor que não é muito lembrado, que é o dos catadores e cooperativas de reciclagem. Nesse sentido, há uma oportunidade de geração de emprego digno, renda e bem-estar para um contingente enorme de pessoas”, reflete.

Abordagem interdisciplinar

De acordo com Marco Aurelio Pereira Bueno, assessor pedagógico da Editora Aprende Brasil, a reciclagem é parte dos conteúdos de Ciências no 2º, 5º e 9º anos do Ensino Fundamental. No entanto, para que as crianças de fato se conscientizem da relevância desse assunto, é importante tratar dele de forma interdisciplinar.

“Na Matemática, podem-se abordar as toneladas de lixo que são descartados sem nenhum tipo de separação, causando grande dano ao meio ambiente. Em História, é possível apresentar o avanço do consumismo ao longo dos séculos e o consequente aumento do lixo. Em Arte, trazer as possibilidades de produções a partir dos materiais recicláveis. Em Educação Física, criar jogos e brincadeiras a partir do lixo reciclável. Em Língua Portuguesa, propor a produção de contos, poemas e histórias que tenham como pano de fundo a reciclagem. Em Língua Inglesa, trabalhar com palavras que estejam vinculadas à temática, ampliando assim o vocabulário das crianças”, exemplifica.

Para Turra, a mudança de comportamento ocorre quando três coisas acontecem. "A primeira é o conhecimento, a informação e a ciência. A segunda é a emoção, que mexe com outros aspectos da cognição das pessoas. A terceira é a vontade de fazer algo acontecer. O jeito de se fazer isso é trazer os alunos para o protagonismo, compartilhar com eles o problema e fazê-los entender que eles são parte da solução. Tudo isso tem que fazer sentido para eles”, finaliza.

 

 

 

 

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