Especialista analisa impactos globais com a criação do maior pacto comercial do mundo
Para o professor Marcelo Godke, nova zona de livre comércio tem poder de ameaçar supremacia econômica e geopolítica ocidental
Os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) se uniram com Japão, China, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia e fecharam um acordo para a formação de um pacto comercial que deverá ser o maior do mundo e estar ativo a partir de 1º de janeiro de 2022. A Índia também fez parte das negociações para integrar o grupo, mas desistiu por temer que a redução das tarifas prejudicasse seus produtores.
Denominado de Parceria Econômica Abrangente Regional (RCEP), o grupo irá cobrir cerca de 30% da população mundial e do produto nacional bruto global, com a promessa de eliminar tarifas de importação sobre 91% dos bens, principalmente itens industriais Uma das características emblemáticas da parceria é que trata-se do único grande acordo de livre comércio assinado pela China.
Segundo Marcelo Godke, advogado especialista em Direito Empresarial e Societário, professor do Insper e da FAAP e sócio do escritório Godke Advogados, o acordo pode, mais uma vez, colocar o centro do poder econômico na Ásia. “Já tivemos uma ameaça do Japão nos anos 80, depois vieram os chamados Tigres Asiáticos e agora é provável que a gente veja uma aceleração do crescimento da Ásia, que vai passar para um novo patamar, tanto nos cenários econômico e comercial e até no político, porque sabemos que poder econômico atrai poder político”, analisa Godke.
Para o professor, como o acordo vai abranger uma boa parte da população e da produção industrial do mundo, deverá ter um impacto enorme, acelerando o comércio nesses países, que já contam com altas taxas de crescimento. “O acordo deve impulsionar ainda mais o posicionamento da China como potência econômica mundial, com a queda de barreiras comerciais e a retomada de um crescimento econômico acelerado. Sem dúvida, será uma zona de livre comércio importantíssima, que tem o poder, inclusive, de ameaçar a supremacia econômica e geopolítica ocidental”.
Índia como nova potência
A Índia, apesar de não fazer parte desse novo pacto, tem um acordo de livre comércio com a ASEAN. O professor chama a atenção para o fato de China e Índia serem as duas maiores populações do mundo, com mais de três bilhões de pessoas. “O crescimento populacional econômico indiano é acentuado e muitos especialistas na Europa e nos Estados Unidos enxergam a Índia como uma potência que vai bater de frente, sendo um contraponto importante com a China, alterando o atual padrão da geopolítica mundial”.
PERFIL DA FONTE
Marcelo Godke - especialista em Direito Empresarial e Societário e sócio do escritório Godke Advogados - bacharel em Direito pela Universidade Católica de Santos, especialista em Direito dos Contratos pelo Ceu Law School. Professor do Insper e da Faap, mestre em Direito pela Columbia University School of Law e sócio do Godke Advogados. Doutorando pela Universiteit Tilburg (Holanda) e Doutorando em Direito pela USP (Brasil).
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