Quando a Síndrome do Impostor afeta relacionamentos
A síndrome do impostor é uma expressão que se refere a um persistente sentimento de dúvida com relação às próprias habilidades, valor ou competência, acompanhada pelo medo de ser exposto como uma fraude. Ou seja, a pessoa consegue fazer conquistas em determinada área de sua vida, mas, mesmo assim, não se considera merecedora daquilo. É como se ela não conseguisse internalizar, ou se apropriar das próprias qualidades, sentindo-se sempre insuficiente mesmo que a realidade lhe mostre o contrário. A síndrome do impostor pode ocorrer em uma ou mais áreas da vida, por exemplo, na área profissional, ou nos relacionamentos. Apesar das conquistas que esta pessoa tem nesta área, ainda assim ela não se sente boa o suficiente.
No caso dos relacionamentos, é comum a dúvida sobre as razões que levou o parceiro ou a parceira escolher este relacionamento. Isto porque a pessoa com síndrome do impostor não se considera interessante, bonita, rica, simpática, ou atrativa o suficiente. Portanto, duas coisas podem acontecer. Por um lado, a pessoa pode ser extremamente dedicada ao relacionamento devido ao medo de perder o parceiro ou parceira. Uma das formas, por exemplo, é dedicando-se ao extremo para sustentar uma imagem ou comportamentos que ela acredita ser capaz de fazê-la mais valiosa, amada ou aceita. Obviamente, isto faz com que seja muito difícil se abrir, revelar as suas vulnerabilidades e valores de forma autêntica. Ou seja, fica mais difícil construir intimidade quando você está na defensiva o tempo inteiro, tentando mostrar-se perfeito.
Por outro lado, a expectativa do abandono iminente também pode fazer com que estas pessoas tenham dificuldade para levar o relacionamento em frente, por exemplo, desconfiando demasiadamente do parceiro ou sabotando a relação. Além disso, a crença de não ser bom o suficiente faz com que estas pessoas percebam qualquer erro como sinal de inferioridade. Por isso, pessoas que sofrem com a síndrome do impostor podem não tolerar bem as críticas e conversas difíceis. Por exemplo, evitando assumir os próprios erros, encontrando justificativas ou outros culpados. No fundo, estas pessoas sentem como se não merecessem o parceiro ou o relacionamento. Por exemplo, fantasiando que o parceiro ou a parceira a deixaria, caso descobrisse certas características que esta pessoa tem.
Pessoas com a síndrome do impostor acreditam que são insuficientes. Esta crença persiste mesmo quando a realidade lhes dá elementos para pensar o contrário, ou seja, os elementos da realidade não são suficientes para convencer esta pessoa que ela, de fato, tem valor. Esta crença de insuficiência é mais comum entre pessoas que cresceram em famílias que deram grande ênfase ao sucesso, ao destaque e às conquistas. Por exemplo, quando crescem com a sensação de que o amor e a aprovação dos pais dependem da capacidade de acertar sempre. A pressão social e a ênfase no sucesso e destaque também podem aumentar as chances de futuros sentimentos de insuficiência. A confusão entre amor, aprovação e sucesso costuma gerar a crença de que, para ser amado ou aceito, eu preciso ser perfeito.
Como superar
Como estas pessoas temem ser expostas, e ter a sua vulnerabilidade descoberta, a maioria das pessoas que sofre com a síndrome do impostor não fala sobre isso. Ou seja, elas sofrem em silêncio. Ainda assim, não é uma experiência incomum. Como estas crenças de insuficiência são muito profundamente instaladas, é importante a ajuda de um psicoterapeuta.
Sentimentos de inferioridade são alimentados pelo silêncio, portanto é importante discutir suas inseguranças e medos também com o seu parceiro ou parceira. Além disso, as pesquisas mostram que fortalecer a autocompaixão pode reduzir o medo do fracasso e a dúvida a respeito do próprio valor.
Ou seja, a autocompaixão é um excelente antídoto para a síndrome do impostor. Os três elementos da autocompaixão são: 1) mindfulness – que é a capacidade de entrar em contato e entender o próprio sofrimento, sem aumentá-lo ou diminuí-lo; 2) humanidade compartilhada – que é a consciência de que você não é o único que sofre ou passa por esta situação. Além disso, erros não são sinais de inferioridade, mas são eles que nos tornam humanos, portanto iguais aos demais; 3) autogentileza: que é falar consigo da mesma forma que você falaria com um amigo querido que estivesse passando por situação similar. Ou seja, recalibrar sua voz interna. Em vez de ser duro ou excessivamente crítico consigo, você possa ser compreensivo e carinhoso.
**Adriana Drulla é Mestre em Psicologia Positiva, pela Universidade da Pennsylvania, e especialista em Compaixão e Autocompaixão pela Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA) e pela USP. É formada em Conscious Parenting, por Shefali Tsabary, psicóloga referência mundial em parentalidade consciente. Primeira brasileira a se formar como Terapeuta Focada em Compaixão (TFC). Teve como mentor Paul Gilbert, criador da TFC e maior pesquisador no mundo no tema da compaixão. Adriana também é certificada em mindfulness e autocompaixão pelo Centro de Treinamento Profissionalizante em Mindfulness da Universidade da Califórnia em San Diego. Publica meditações para o desenvolvimento da autocompaixão no Spotify, no podcast Mente Compassiva. Adriana é professora convidada do Insper onde leciona sobre autocompaixão e autoconhecimento para CEOs, CFOs e CHROs
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