Professores chegam a trabalhar 54 horas por semana, diz pesquisa
Carga horária de educadores vai além do tempo passado em sala de aula e exige dedicação para que conteúdos não sejam simplesmente repetidos
Antes e depois de riscar a lousa com o giz, todo professor precisa dedicar outras boas horas do dia a se preparar para ensinar. É comum que educadores de todo o mundo tenham tarefas extra-classe a cumprir todos os dias. Um levantamento feito pela plataforma EdWeek Research Center, dos Estados Unidos, mostra que esses profissionais podem ter uma jornada de trabalho de até 54 horas por semana. E apenas metade desse tempo é gasto realmente ensinando os estudantes.
A pesquisa, divulgada em 2022, ouviu mais de 1,3 mil professores. E a realidade é parecida em muitos países, inclusive no Brasil, onde uma decisão de 2020 do Superior Tribunal Federal (STF) determinou que, na Educação Básica Pública, tanto nos estados quanto nos municípios, professores devem destinar ⅓ das horas de trabalho semanais às atividades pedagógicas realizadas fora da sala de aula. A mesma decisão também prevê que esse tempo pode ser cumprido fora do ambiente escolar.
Ainda que pareça um contrassenso, jornadas muito extensas podem prejudicar o desempenho dos educadores. É fora da sala de aula, afinal, que esses profissionais têm a oportunidade de ampliar o repertório humano e cultural para que o trabalho dentro da sala de aula seja mais preciso e assertivo. De acordo com a diretoria pedagógica da Aprende Brasil Educação, Acedriana Vogel, “o trabalho em sala de aula é muito mais amplo e abrangente do que pode abarcar um conteúdo formal. O nosso compromisso é garantir um trabalho individual nesse espaço coletivo que é a sala de aula, a serviço do desenvolvimento de habilidades e competências. Por isso, a contribuição do professor pensando e organizando todas as fases de construção do processo de ensino e de aprendizagem é tão importante”.
Professores pensando a Educação
Na Escola Municipal Joaquim Faustino Rosa, o professor Wagner Farias Torres recebeu um prêmio nacional em reconhecimento à sua contribuição para o material didático do município de Costa Rica (MS). Mestre em Educação e Territorialidade pela Faculdade Intercultural Indígena (UFGD), ele percebeu que havia uma oportunidade para dar ainda mais visibilidade às vozes indígenas nos livros. “Dar voz aos povos originários nesse contexto contribui de forma contundente com a abordagem do conteúdo. Eles têm propriedade para falar sobre seus ritos, ornamentos e cânticos, por exemplo. Com toda certeza, há nuances entre a cultura de uma etnia e a outra, mas a cultura pode e deve ser retratada pelos olhares da vivência ancestral”, explica.
Embora as muitas horas passadas ensinando e planejando as aulas sejam fundamentais, foi graças a uma vivência fora desses ambientes que ele pôde desenvolver esse olhar. “Estamos em sala de aula para compartilhar e contribuir com o conhecimento dos estudantes. Procuro ressignificar minha metodologia diariamente e colocar o aluno como protagonista do processo de ensino e aprendizagem” ressalta Torres. Ele lembra que, ainda que isso “atrase” o conteúdo em alguns momentos, é justamente essa mudança que torna o aprendizado mais significativo e efetivo, porque extrapola os muros da escola e tem impacto na vida da sociedade como um todo.
Para Damila Bonato, gerente de marketing e produto da Aprende Brasil Educação, responsável pelo prêmio concedido ao professor, essa troca com quem está diariamente na presença dos estudantes é indispensável. “Enquanto sociedade, devemos buscar ouvir sempre o que nossos educadores têm a dizer. São eles que conhecem, mais que qualquer outra pessoa, os detalhes e desafios práticos do educar. Somente escutando suas opiniões e sugestões será possível construir um ensino com mais qualidade e significado”, afirma.
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