Digitalizar ou Digitizar: como a escolha errada pode custar caro para a construtora
Por Diego Mendes
Desde o boom das construtechs em 2018 até hoje, a procura por digitalizar processos só cresce. Com a pandemia, o mercado se viu obrigado a abrir mão de métodos tradicionais e buscar novas formas de construir que dependessem menos do convívio presencial e de processos analógicos. Foi aí que a palavra "digitalização" explodiu nas buscas no Google.
Mas será que é isso mesmo que a construtora precisa?
Digitalização e digitização são termos parecidos, mas, na verdade, digitalizar é a conversão de um objeto físico para digital, como ao tirar uma foto do passaporte ou escanear a página de um livro. O que fazemos com esse arquivo? Nada ou muito pouco! Geralmente, ele vai parar em uma pasta no computador na qual logo o esquecemos dentre os milhões de outros arquivos acumulados ao longo dos anos. Sempre que for preciso encontrar a informação ela estará encapsulada, sem indexadores que facilitem o uso dos dados contidos no arquivo.
A digitização é um fenômeno tecnológico contemporâneo. Diz respeito à transformação do negócio em um modelo digital, pautado pelas novas demandas e comportamentos dos consumidores. Fica então claro que a resposta para quem precisa de dados para tomar melhores decisões ou mesmo para desenvolver com mais clareza seus processos não é digitalizar mas sim DIGITIZAR.
Em um mundo digitizado um arquivo nasce, é modificado e consumido sempre em ambientes digitais, além de ter seus metadados disponíveis para serem explorados de várias maneiras, inclusive gerando novos dados não detalhados no arquivo original.
Como funciona a digitização de uma construtora?
Ao optar pela digitização, a construtora ou incorporadora passará por mudanças profundas e precisará se adequar ao meio digital - o que deve implicar em significativas transformações na forma de pensar seus processos e adaptações na infraestrutura. A boa notícia é que já é possível criar empresas totalmente digitais. Afinal, existem plataformas que permitem o funcionamento inteligente e virtual, desde a criação e organização de documentos, contato com o cliente e até recebimentos.
Esse modelo de negócio mostrou resultados bastante interessantes em outros mercados. Empresas de locação de espaços em que os hóspedes fazem seu check-in sem a necessidade de um humano para recebê-los, ou locadoras de carros que espalham seus carros na cidade e o sistema faz toda a gestão de veículos - isso quando possuem veículos - esses são apenas alguns dos exemplos mais conhecidos, o fato é que o grande valor está na experiência.
Na construção, estamos em um momento mais embrionário, mas muito está sendo feito e as construtoras que entenderam isso saíram na frente. Scaleups, como a ConstructIn, tornam possível acompanhar obras sem sair de casa com imagens 360°. Já com a ConstruCode, projetistas e coordenadores de projetos erguem um prédio sem a dependência da interação física para lidar com projetos, aliás, os projetos nem precisam ser impressos já que podem ser consumidos através do QR CODE locado em cada pavimento. São exemplos que mostram que as coisas estão mudando rapidamente.
Antes de mergulhar em digitização de processos, alguns passos são fundamentais:
Planejamento: entender qual o status atual da empresa, objetivos e ações necessárias para atingir essas metas.
Equipe: preparar a equipe para a transformação digital, com treinamentos sobre novos processos e tecnologias.
Engajamento da alta gerência: a alta gerência deve se inteirar sobre plataformas digitais e como elas podem facilitar as atividades do dia a dia, pois é dela que deve partir o comando para inovar.
Segurança: escolher parceiros de negócios confiáveis, com plataformas seguras e validadas. Se uma plataforma ainda não tem uma quantidade mínima de clientes, a atenção deve ser redobrada, pois as obras podem se tornar um laboratório de testes.
O que posso esperar ao investir em digitização?
E não dá para falar em digitização sem abordar a transformação digital - o processo de aproveitar as inovações tecnológicas para acelerar os negócios. O principal retorno da transformação digital é o uso prático de inovação tecnológica como diferencial para a evolução da empresa. Os resultados são: eficiência com a melhoria de processos internos; retorno financeiro, com o fim das tarefas repetitivas e falhas operacionais; posicionamento de marca, com um upgrade da imagem da empresa perante clientes e parceiros; valor agregado, com vantagem competitiva aos produtos e serviços.
Pela minha experiência, afirmo que, apesar de ser inicialmente complexa, a transformação digital é uma jornada sem volta por agregar na redução de infraestrutura física, agilidade nos processos e redução de custos. Além disso, a comunicação em diversos pontos da cadeia de relações se torna muito mais simples, palavra-chave para qualquer construtora.
* Diego Mendes é CEO e co-founder da ConstruCode. Analista de Sistemas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e Engenheiro Civil pela UniJorge, com MBA em Economia e Gestão Empresarial pela mesma Universidade, possui mais de dez anos de experiência na área, com passagens pela Larco Petróleo, Prodenge Engenharia. Diego foi eleito Personalidade da Tecnologia em 2019 pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP-SP) e recebeu o Prêmio Tecnologia e Inovação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA-BA)